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(BARAVELLI, 2014). Essa organização do trabalho não rompe completamente com o processo

construtivo tradicional, mas seriam adotadas medidas de melhoria de condição de trabalho visando

o aumento da produtividade. Outro aspecto que incentivou a qualificação profissional foi o

surgimento de programas de normatização para a indústria, a partir da década de 1990, a fim de

procurar controlar a qualidade da massiva produção que ocorria, como o Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade da Habitação (PBQP-H).

A procura por mão de obra qualificada, além de ter que superar a questão histórica da formação

profissional dos trabalhadores na construção civil através da prática do trabalho, lida com uma

problemática estrutural do país, que é o seu sistema educacional. Com relação à escolaridade, 80%

dos trabalhadores do setor têm menos de quatro anos de estudo, e 20% são analfabetos funcionais

(Blanco, 2007). Costa e Tomasi (2009) apontam para o quanto esses novos saberes da profissão

exigem como base conhecimentos construídos no ensino regular fundamental, isso é uma lacuna

que os cursos profissionalizantes deveriam suprir.

A intensificação das atividades do mercado imobiliário e da construção civil abre espaço para as

parcerias público-privadas, que vêm sendo amplamente adotadas em diversas fases do processo

de expansão do capital financeiro nesses setores, inclusive no desenho de novas políticas públicas

voltadas para a qualificação profissional. Algebaile (2007) coloca que a educação é o carro-chefe

das políticas sociais no Brasil, e, um cenário de necessidade de uma cada vez maior especialização

da mão de obra faz com que a partir da década de 1990 parte das políticas atuais sejam voltadas

para a formação profissional.

2. OBJETIVO

O objetivo geral deste artigo é analisar novas referências em iniciativas de ensino e de formação

profissional, sob a ótica de duas vertentes. A primeira se aproxima da lógica de produção

habitacional em grande escala no Brasil promovida por grandes empresas, definida a partir da

contextualização teórica anteriormente apresentada, chamadas no âmbito da pesquisa de

“conformações”. A segunda se refere a outros processos, nacionais ou internacionais, que não

façam parte desta lógica de produção, e que não somente visem à formação voltada para o

mercado, mas promovam transferência tecnológica com o objetivo de socialização do conhecimento

e desenvolvimento social, chamadas no âmbito da pesquisa de “contrapontos”.

Para tanto, apresenta como objetivos específicos (i) identificar o tipo de formação profissional

requisitada pela produção habitacional vigente no Brasil e quais agentes a promovem; (ii) investigar

a existência de outros tipos de processo de formação, vinculados à transferência tecnológica e ao

desenvolvimento local e social; (iii) caracterizar qualitativamente estes processos de formação; (iv)

aproximar comparativamente as análises das duas vertentes aqui tratadas, as “conformidades” e

os “contrapontos”, e avaliar quais aspectos de ambas poderiam contribuir para um aprimoramento

das demais iniciativas de formação promovidas por instituições ou empresas no Brasil.

3. MÉTODO DE PESQUISA

O presente artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa que recorreu à três procedimentos

combinados: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa de campo. A pesquisa

também envolveu a análise de quatro estudos de caso, cuja seleção ocorreu em uma etapa de

pesquisa exploratória sobre experiências de formação profissional. Os estudos de caso abrangem

as duas vertentes – conformidades e contrapontos -, nos quais foram desenvolvidas as estratégias