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do Mestre de Obras como responsável pela cobrança da produtividade e qualidade através de
ações coercitivas.
Um aspecto que diferencia os cursos é o material didático e a metodologia de ensino. No SENAI, o
material é desenvolvido por equipe da própria Escola SENAI “Orlando Laviero Ferraiuolo”. No
Instituto da Construção, o material didático é terceirizado, desenvolvido pela empresa “Didáctica -
Soluções em Educação e Conhecimento”, que desenvolveu sistema metodológico de ensino
modular, formatado especialmente para a expansão no modelo de franquias. Uma outra diferença
entre as instituições é o pré-requisito quanto à escolaridade: enquanto o SENAI exige nível de
escolaridade mínima para admissão dos alunos (ele deve comprovar ter no mínimo até 6º ano do
ensino fundamental completo), o Instituto da Construção não exige, possivelmente com a intenção
de absorver a grande parcela de trabalhadores que não se encaixa no perfil de escolaridade
estipulado pelo SENAI. Sobre as exigências de um trabalhador com escolaridade mais elevada,
Silva (2001) teoriza que a indústria passa a buscar trabalhadores mais “polivalentes”, que
administram simultaneamente várias máquinas ou desempenham mais de uma função, e aspectos
comportamentais como habilidades comunicativas, relações interpessoais para trabalho em equipe
e pró-atividade frente a situações problema, como visto no conteúdo dos dois cursos de Mestre de
Obras dos estudos de caso, também passam a ser bastante valorizadas pelas empresas.
Contrariando essa afirmação, o próprio quadro atual de cursos que o SENAI disponibiliza aponta
para o surgimento de inúmeros novos cursos em funções especializadas, de acordo com demandas
do mercado por profissionais aptos lidar com a introdução de novos materiais e componentes
industrializados. Nesse sentido, Moura (2011) cita como mudanças no setor corroboraram para uma
maior fragmentação das tarefas no canteiro. É o caso da tendência de mercado que levou às
empresas especializarem-se em determinadas fases da obra, como a colocação de revestimento,
impermeabilizações, instalações elétricas e hidráulicas.
Com as transformações produtivas do setor surgem também novos cargos mais ligados à gestão e
controle dos processos, muitas vezes até mesmo ocorrendo fora do ambiente de trabalho do
canteiro de obras. Acompanhando esse fenômeno, as instituições de ensino profissionalizante
criam novos cursos que abarcam esses cargos de gestão já existentes em vários setores da
indústria, mas especializando-os para o setor da construção civil. É o caso do curso de Almoxarife
de Obras, criado por Comitê Técnico Setorial na Escola SENAI “Orlando Laviero Ferraiuolo” em
novembro de 2016.
4.2. Contrapontos: a formação de trabalhadores na construção civil no projeto “Mulheres de
São Carlos Construindo Autonomia” e no CEVE
Parte da bibliografia existente sobre a formação profissional na construção civil critica a abordagem
mercantilista da educação, que assume como compromisso capacitar profissionais de acordo com
a nova realidade produtiva do setor, que, por sua vez, exige profissionais com conhecimentos novos
e mais especializados. A questão da qualificação profissional atrelada às políticas públicas também
está sujeita a atender a um pensamento neoliberal que assume a formação profissional como chave
para contemplar e servir ao novo paradigma produtivo de flexibilização do trabalho. Oliveira (2007)
vai enfrentar essa questão por um viés crítico, apontando para desafios e medidas práticas a serem
tomadas pelas políticas públicas para uma maior eficácia frente a essas contradições. Segundo
Oliveira, as experiências recentes resultaram de um processo contraditório marcado, tanto por um
claro esforço de desresponsabilização do Estado frente às políticas sociais (e quando não,
transferência destas para o domínio do poder privado), típico de um Estado neoliberal, como pela