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Destaca-se as características empresariais que foram observadas no Instituto da Construção, que

denotam o viés mercadológico desse tipo de iniciativa privada e a formação profissional como um

nicho dentro desse contexto. A matriz não exige dos franqueados nenhum tipo de conduta

específica no que diz respeito ao planejamento pedagógico, ficando sujeito à auto-organização e

iniciativa das unidades. Na ocasião das visitas de campo, evidenciou-se uma visão do ensino como

produto, e do aluno, como cliente, como a existência de funcionários que têm por função o cargo

de “vendedores”, ou o plano de divulgação da empresa em redes sociais e na televisão local.

As parcerias com empresas privadas do ramo da construção civil ocorrem nos dois casos, e se

fazem presentes desde o interior das salas de aula, onde se encontram vários banners

promocionais de fabricantes de material e componentes. No caso específico do Instituto da

Construção, empresas utilizam seu espaço físico para cursos e capacitações voltados para o uso

de seus produtos, existem salas de aulas inteiramente patrocinadas por empresas, “temáticas” e

decoradas com propagandas. No SENAI, essas parcerias desenvolvem-se também através de uma

modalidade de prestação de serviços a empresas, sejam elas construtoras ou fabricantes de

material. O serviço consiste em cursos montados pelo SENAI a partir de uma demanda da empresa

para seus funcionários (exemplo: assentador de piso laminado), na modalidade de formação inicial

e continuada, com duração e composição variada conforme o caso. A empresa fornece os

educadores e fica responsável pelas admissões de inscrições, enquanto o SENAI faz a elaboração

do curso e oferece a infraestrutura. Até novembro de 2015 haviam ocorrido mais de 600 projetos

no ano. Outro serviço oferecido a empresas e trabalhadores pelo SENAI, a certificação profissional

denota também uma visão mercadológica da qualificação profissional. O certificado acaba sendo

um fator de “desempate” frente à concorrência no mercado de trabalho em meio ao crescimento de

exigência sobre qualificação profissional. Existe uma certa contradição entre uma instituição que

fornece cursos profissionalizantes oferecer também uma opção que forneça ao trabalhador

certificação na área em que atua sem ter passado por nenhum processo de formação formal. Outra

face da certificação profissional é mais diretamente ligada às empresas, que buscam contratar

profissionais qualificados por esse ser um fator fundamental para a obtenção de certificados de

qualidade e melhorar sua posição no mercado.

O curso Mestre de Obras foi escolhido para análise nas duas instituições quanto a seu conteúdo,

metodologia, linguagem, etc. Aborda, além do conteúdo relacionado às funções do canteiro de

obras, questões relacionadas à gestão das etapas construtivas e de pessoas através de conceitos

como comunicação, relações interpessoais de trabalho, gestão de pessoas, raciocínio lógico,

ergonomia, segurança no trabalho, planejamento, supervisão das etapas da obra, etc. O Plano de

Curso elaborado pelo SENAI para o curso de Mestre de Obras faz uma análise que atrela inovações

tecnológicas com competitividade de mercado. A formação profissional garantiria “base científica

mais sólida”, permitindo maior adaptabilidade dos profissionais às mudanças tecnológicas e

organizacionais do trabalho. O conteúdo dos cursos das duas instituições demonstra bastante o

enfoque da formação do profissional Mestre de Obras como mais ligado ainda à gestão do processo

e da equipe e da aplicação de métodos de racionalização do trabalho que à execução em si. É

importante frisar que as novas tecnologias em gestão de equipe dependem da inclinação e da

capacidade de investimento em organização do trabalho e desenvolvimento tecnológico das

empresas de racionalizar seu processo produtivo nesse sentido. Segundo Moura (2011) ainda

existem muitas empresas na qual a atuação baseia-se em práticas ligadas à informalidade do setor.

Os baixos salários aumentam a rotatividade da mão de obra, o que desencoraja investimento por

parte da empresa em treinamento e qualificação. Nesses casos é comum a manutenção do papel