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ambientais, esse material retorna como oportunidade para agregar mais sustentabilidade e, muitas
vezes, associado ao papel social da Arquitetura.
Fathy (1982) recorrentemente relaciona a arquitetura de terra com o seu potencial de redução da
pobreza, conservação de recursos, proteção da diversidade cultural em meio à globalização e
preservação dos valores sociais realizadas pelo patrimônio arquitetônico. As técnicas de construção
com terra também costumam ser enaltecidas por serem em grande parte recicláveis, minimizar a
necessidade de transporte, possuir alta durabilidade e ter baixa condutibilidade térmica (Pisani,
2004; Faria Rodrigues, 2007).
Ramos; Gámez; Cossio (2002) ponderam que apesar de positiva, essa associação entre terra,
arquitetura e sustentabilidade não acontece de forma tão trivial, principalmente em países que já
perderam essa cultura construtiva há mais tempo ou naquelas em que essa apropriação foi
historicamente precária. E, nos dias atuais, tanto no meio urbano quanto no meio rural, a aquisição
de materiais e componentes industrializados é mais fácil do que a terra, que apesar de gratuita e
abundante, é diversa e requer apoio técnico experiente para seu preparo e uso.
Em alguns outros países, o uso moderno da terra aparece associado a um suporte tecnológico,
como na Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos (GOLEBIOWSKI, 2009) e apoiado por
normativas nacionais (CORREIA, 2006). Já em outros, como Portugal e Espanha, os métodos de
construção com terra ainda encontram-se em transição entre o artesanal e o moderno (FONT;
HIDALGO, 2011; PONTE, 2012).
Assim, na situação atual é esperado que se depare por um lado, com experiências estrangeiras de
sucesso e do outro, uma grande demanda por construções “mais sustentáveis”, com lacunas a
serem preenchidas. Uma dessas lacunas, identificada por Veraldo (2015) é a falta de capacitação,
seja da mão de obra, quanto dos demais profissionais da cadeia produtiva da construção civil.
No ensino formal, Faria; Beltrame; Alonge (2016) dizem que há muita dificuldade de inserção e
formalização de temas relacionados a arquitetura e construção com terra nas instituições de ensino
superior brasileiras, tanto na graduação quanto na pós-graduação, nos cursos de Engenharia Civil
e Arquitetura e Urbanismo. Segundo Parisi, Rodrigues e Hoffmann (2012), há necessidade de
formulação e/ou a sugestão de ementas para disciplinas sobre a arquitetura e construção com terra
nas escolas, cursos e faculdades de Arquitetura de todo o país. Assim, cabe questionar quem são
os responsáveis por propor e/ou inserir disciplinas ou cursos de arquitetura de terra nas
universidades.
O conteúdo sobre terra tem sido negligenciado pelas instituições, aparecendo em poucos currículos
“oficiais” de ensino. Entretanto, exceções são apresentadas por Faria; Beltrame; Alonge (2016), na
qual quatro universidades oferecem disciplinas que tratam do assunto, 3 em São Paulo e 1 no Mato
Grosso do Sul. Dessas, uma é derivada da iniciativa na década de 90, do século XX, quando houve
uma ação da cátedra da UNESCO de Arquitetura de Terra, Culturas Construtivas e
Desenvolvimento Sustentável, que promoveu (desde 1998) o diálogo entre os diversos países e
facilitou o intercâmbio da transferência do conhecimento através da relação do ensino superior,
formação profissional e da pesquisa no campo da arquitetura de terra.
Além desses, as iniciativas para a disseminação da arquitetura de terra e difusão dos
conhecimentos de suas técnicas são realizadas em conferências específicas sobre o tema, que
acabam se tornando uma das poucas fontes de capacitação de pessoas. O Congresso de
Arquitetura e Construção com Terra no Brasil (TerraBrasil), evento recente, criado há 10 anos, reúne
trabalhos acadêmicos e profissionais, além de realizar oficinas de sensibilização para iniciantes,
com demonstração das principais técnicas de construção com terra.
Há também opções de aprendizado das técnicas que foram/são oferecidas em cursos de curta
duração, por organizações particulares (“ecocentros” ou institutos de permacultura) e instituições