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de Amsterdã (1975), “uma vez que a arquitetura de hoje é o patrimônio de amanhã, tudo deve ser
feito para assegurar uma arquitetura contemporânea de qualidade. ” Um desafio, porém, é que
o potencial criativo é equitativamente distribuído no mundo, mas não pode ser
plenamente expresso por todos. Do mesmo modo, nem todos têm acesso à vida
cultural, à expressão da criatividade, e à possibilidade de usufruir de uma
diversidade de bens e serviços culturais, incluindo os seus próprios (Declaração de
Florença, 2014).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto, percebe-se que até o início dos anos 2000 o desenvolvimento sustentável era
tratado com enfoque predominantemente ambiental, e o pensamento da inserção da cultura como
um dos elementos que devem constituir a elaboração das políticas que assegurem o
desenvolvimento sustentável das comunidades é relativamente recente. A inserção da preservação
cultural e de identidade das comunidades traz um avanço importante e delimita o fortalecimento do
pilar social no conceito de desenvolvimento sustentável proposto pelo Relatório Brundtland e
amplamente discutido até nossos dias.
Conforme acordado na declaração de Amsterdã (1975), a conservação do patrimônio arquitetônico
não deve ser tarefa apenas dos especialistas. Ela considera que “o apoio da opinião pública é
essencial. A população deve, baseada em informações objetivas e completas, participar desde a
elaboração dos inventários até a tomada das decisões”. A proposta de participação das
comunidades na preservação aproxima o indivíduo da sua história comum e possibilita a redução
do valor tecnocrático relegado à preservação do patrimônio cultural.
No entanto, vale a pena enfatizar que os documentos tratados não consistem em regulamentos ou
normas. As cartas ou declarações apresentam caráter generalista, apenas pautam objetivos gerais
e estes últimos nem sempre são alcançados, sendo complexo o controle das intenções que foram
atingidas ou não. Ademais, estes documentos, quase sempre considerados nas teorias das
estratégias de gestão, são muito pouco colocados em prática.
Ao mesmo tempo em que esta visão aponta para os diversos desafios da gestão e apropriação
sustentável do patrimônio cultural, também revela oportunidades. Percebe-se, por exemplo, que a
preservação dos conhecimentos e competências tradicionais, associada ao conhecimento científico
e tecnológico, é capaz de reduzir os custos, o desperdício de matéria prima e ainda engloba
princípios de justiça social. É preciso compreender que técnicas tradicionais podem ser eficazes em
determinadas situações e que sua simplicidade é o que vai permitir que se considere, efetivamente,
o fator cultural nas intervenções.
Embora este trabalho não tenha por foco questões como o turismo cultural e a apropriação dessas
manifestações culturais como ativo econômico e social, ações nesse sentido são possíveis e devem
ser realizadas a partir de estudos e aplicações criteriosas, que preservem as características
genuínas do bem, para que este não se transforme em um cenário ou representação desligada da
realidade e de sua própria história. É ainda mais importante, nestas situações, que a população seja
envolvida no processo e possa desfrutar dos benefícios dessa integração, sob pena de a
apropriação cultural tornar-se, no fim, um instrumento de higienização e segregação se ignorada a
dimensão social.
Finalmente, ao
conceber a relação da sustentabilidade e da cultura em tempos de transformação,
é importante perceber que transformar as atividades humanas em modelos sustentáveis é
necessário e urgente, porém reconhecer as competências e conhecimentos tradicionais das
comunidades na produção do espaço construído – que sempre foram sustentáveis – utilizando-os,
mantendo-os e preservando-os é fundamental.