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constante recorrência dos princípios nos mais diversos encontros pode, talvez, indicar a estagnação
de práticas efetivas perante a teoria proposta.
3. PATRIMÔNIO CULTURAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Uma vez entendido que a cultura deve estar situada no centro das reflexões que visam a
sustentabilidade, e que irrevogavelmente ela tem o seu papel ao lado dos parâmetros políticos,
econômicos, sociais e ambientais, prossegue-se no sentido de propor ações e intervenções que
unam patrimônio cultural e desenvolvimento sustentável.
Segundo as conclusões trazidas nos últimos documentos, o turismo sustentável, a indústria criativa
e as intervenções de reabilitação ou revitalização urbana são as principais estratégias para a
manutenção de cidades sustentáveis. Estas ações além de gerarem empregos verdes, incentivam
a criatividade, concebendo o patrimônio como recurso ao desenvolvimento e vice-versa;
preservando o direito à memória e à diversidade cultural dentro de uma abordagem interdisciplinar
e interinstitucional.
O incentivo à salvaguarda do patrimônio construído é essencial dentro destas estratégias, uma vez
que promove a utilização mais sustentável da diversidade cultural, bem como a salvaguarda dos
conhecimentos e das competências tradicionais relacionadas, com especial atenção aos dos povos
tradicionais em sinergia com os conhecimentos científicos.
Assim, enfatiza-se que a manutenção, preservação e/ou conservação dos ambientes construídos
de valor histórico e cultural não é mais importante, ou senão é tão importante quanto a salvaguarda
dos meios de construção utilizados nesses mesmos ambientes, pois são estes últimos que vão
permitir a sua permanência no tempo de maneira sustentável.
Logo, um ambiente construído que permite o desenvolvimento sustentável, de fato, não será aquele
adaptado ao estereótipo da sustentabilidade, mas aquele que é sustentável em si mesmo, em sua
essência construtiva, social e cultural. Compreendendo isto, as administrações locais devem
preservar e melhorar esses ambientes em harmonia com seu contexto, fomentando a relação ética,
solidária e inclusiva entre desenvolvimento e patrimônio.
Ao usufruir das alternativas indicadas, percebe-se que é possível a manutenção das cidades e seu
desenvolvimento sustentável aliados à preservação do patrimônio. Observa-se ainda que o
equilíbrio entre uns e outro não é somente responsabilidade dos profissionais técnicos das áreas
de arquitetura e urbanismo, engenharias e construção civil, mas da sociedade como um todo, que
compreende os motivos de apreciação e valoração de um determinado espaço como patrimônio e
que, afinal, vai se sujeitar às consequências de quaisquer intervenções que venham a ser realizadas
nesses espaços.
Nesse seguimento, apresentam-se alguns dados: a atual lista de patrimônios de valor universal da
UNESCO inclui 1052 sítios entre patrimônio cultural e natural, 814 bens culturais, 203 naturais e 35
mistos, presentes em 165 países do mundo, dos quais 55 estão em risco (UNESCO, 2016). Nota-
se que os sítios históricos urbanos de maior porte inscritos nesta lista vivenciam uma fase de
esgotamento das suas medidas de conservação, que na maioria das vezes são concentradas na
reabilitação de edifícios isolados. Notadamente, há a necessidade de adoção de uma metodologia
de gestão capaz de gerenciar a conservação aliando-a ao desenvolvimento, evitando intervenções
marginalizadas e descontextualizadas.
No que tange às indústrias criativas, tem-se que um especial apoio deve ser dado aos programas
culturais que encorajam a criatividade e a expressão artística” (Declaração de Hangzhou, 2013). A
arquitetura, por definição, se enquadra nesta referência e, portanto, é mais uma das oportunidades
de promover a sustentabilidade de forma criativa e cultural e, conforme já antecipado na declaração