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Identificam-se correntes de pensamento e de ação que buscam interferir de maneira global, seja de
forma a repensar a utilização dos recursos e da organização das redes de comunicação,
infraestrutura e interação entre as pessoas para contribuir na construção de um novo equilíbrio
global (LOW, 2014); identificam-se pensamentos e ações que buscam na dinâmica da cidade
existente a sua própria solução e lançam mão de processos participativos de construção ou
reconstrução da urbanidade, de processos de construção da solidariedade, (MAZZANTI, 2014) ou
de reconstrução de uma morfologia urbana que privilegia o espaço público e o encontro da
diversidade, como as ideias contidas na proposta da cidade radicante de Jana Revedin (2014).
Ainda, presente neste contexto, aquelas ideias que colocam como prioritária a construção do habitat
para todos, a moradia e as condições de habitabilidade, os modos de morar que privilegiem o bem
estar público, o respeito à diversidade, à urbanidade e à cidadania. Aqui são inúmeros os trabalhos
pelo mundo inteiro, de arquitetura e de urbanismo como o chileno Grupo Elemental, ou o brasileiro
Usina, sem falar dos grupos que atuam nos espaços solidários em todas as partes do mundo,
reinventando práticas tradicionais, nos Coletivos de todas as nacionalidades atuando nas áreas
periféricas do mundo, da América Latina à Ásia, em escala local revertendo práticas e introduzindo
novas teorias.
Diferentes em suas estratégias trazem em comum a aproximação com as forças criativas das
utopias, transformadas na ideia de futuros possíveis, ideia sintetizada de forma muito apropriada
por Bernardo Secchi (2006), postas em ação para buscar o enfrentamento dos desafios colocados,
muitas das vezes, pela inconsequência da lógica de urbanização, de desenvolvimento a todo custo,
de consumo ilimitado de todos os recursos disponíveis que alimentam a desigualdade e este imenso
“planeta favela” (DAVIS, 2006). Em comum também, a importância da relação de interação do
intelectual detentor do conhecimento técnico com a comunidade, ou com os indivíduos para os
quais a intervenção se destina.
O arquiteto, por constituir um dos elementos principais na produção dos espaços, deve ter em mente
o seu fundamental papel na transformação social, cultural e ambiental, a partir da criação de uma
consciência mais sustentável entre os atores urbanos. Assim, é de extrema importância o olhar
sobre essas reflexões para a composição de espaços que gerem menos impacto sobre a natureza
e sociedade, para a urgente ruptura com essa inconsciência globalizada, para nossa própria
permanência neste planeta. Por meio da utilização de materiais locais na construção, da relação
entre espaço construído e natureza, da compactação e densificação dos espaços, da criação da
consciência crítica, e, principalmente, por meio da participação social é que buscaremos a
verdadeira sustentabilidade e equidade social. O exercício da arquitetura atual ao invés de gerar
impacto, como vem acontecendo, pode, sobretudo, produzir reações sustentáveis na sociedade, a
qual irá contribuir para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade Federal de Juiz de Fora, à CAPES/CNPQ e à Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG pelo apoio concedido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAVENA, A.; LACOBELLI, A. Des maisons pour tout le monde? L’habitat incrémenté et la
conception participative. In : CONTAL, M. (Orgs).
Ré- enchanter le monde. L’architecture et la
ville face aux grandes transitions
. Paris: Manifestô Alternatives, 2014.