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2065

intervenções poderiam vir a influir nos hábitos cotidianos dos atores urbanos, permitindo mudanças

de comportamento, de reflexão e pensamento, as pessoas se tornando parte integrante e

componente daquele ambiente, com o real desejo e ambição de transformação de seu presente.

Do mesmo modo, essa arquitetura se torna, também, uma forma de integração social permitindo

melhorar a qualidade de vida desses habitantes, como acontece nos bairros degradados da

Colômbia, onde eles acabam promovendo o bem-estar social e produzindo, por meio da arquitetura,

uma sociedade mais justa.

A arquitetura não é importante por si só ou como estética, representação e estrutura, mas por gozar

dessa capacidade de provocar reações, de servir como catalizadora para todos os atores, de agir,

de conceber ações na vida cotidiana da cidade e de seus próprios protagonistas.

Outra perspectiva no sentido de reverter o desequilíbrio social vem da ideia da “Cidade Radicante”,

da arquiteta alemã Jana Revedin. A cidade radicante é caracterizada por uma nova morfologia,

destinada a se desenvolver nos espaços assim como as raízes das árvores buscam nutrientes na

terra para o seu crescimento e vida. “Essa morfologia radicante se tornará a morfologia da Ecopolis”

(REVEDIN, 2014, p. 74, tradução nossa). A Ecopolis possui espaços regenerativos e

autossuficientes capazes de densificar e melhorar os espaços urbanos já existentes na cidade, ou

seja, de modificar os modos atuais de vida, o consumo desenfreado e a produção de resíduos,

substituindo o processo de destruição por um metabolismo dito “circular”, onde o consumismo e a

poluição são reduzidos a partir da restruturação e da reciclagem.

A cidade radicante tem como características, segundo Revedin (2014, p. 82, tradução nossa),

“plantas inacabadas que apontam para uma adaptação às novas necessidades e os novos modos

de vida, capazes de se autorregenerar e a compartilhar e decidir coletivamente ”.

A partir de um processo de projeto participativo, a teoria da cidade radicante se divide em quatro

fases: a primeira etapa se dá através da exposição e explanação da comunidade sobre suas

verdadeiras necessidades; a segunda etapa parte da compreensão da condição humana em seu

meio e espaço, dos costumes, tradições e valores daquela população, onde a equipe identifica os

desejos que podem ser realizáveis tanto financeiramente quanto materialmente; a terceira etapa

apresenta testes de ações coletivas, que se apresentam como uma espécie de laboratório de

projetos participativos na comunidade e a quarta etapa se faz a partir das intervenções feitas, onde

a equipe de trabalho espera que a comunidade dê prosseguimento às reações em cadeia.

Na busca de encontrar uma solução para as cidades fragmentadas, outra perspectiva se apresenta:

a teoria do arquiteto belga Gilles Debrun (2014), que se constrói a partir da ideia de que é preciso,

primeiramente, construir uma visão que englobe as questões planetárias, regionais e locais. Para

ele a arquitetura não será de qualidade se não se inserir em um urbanismo sustentável. Assim como

propõe Rogers (2001) nas suas “cidades sustentáveis”, as quais retratam bem esse equilíbrio entre

sociedade, cidade e natureza, Debrun (2014) também indica que é fundamental essa equidade da

arquitetura com a natureza e, mais ainda, o despertar dessa consciência.

As intervenções urbanas sustentáveis são chamadas por Debrun de “reciclagem urbana”. A

reciclagem urbana é caracterizada por uma espécie de autoprodução da cidade e do habitar, onde

os cidadãos são capazes de coproduzir uma cidade solidária e equitativa, a comunidade intervindo

na criação e construção dos espaços. Como proposta Debrun (2014) visa à criação de loteamentos

sustentáveis, espaços que dão lugar à

mixité

(mistura social), ao reencontro, à diversidade dos

espaços, ao viver em conjunto com todo o território e sociedade em oposição aos espaços fechados

e isolados de iguais.