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propostas de solução dessa problemática, escolhemos debater a agência chilena ELEMENTAL, da
qual faz parte o arquiteto Alejandro Aravena, que busca soluções para o que eles chamam de
“equação da terceira modernidade” (ARAVENA; LACOBELLI, 2014, p. 112, tradução nossa). Para
Aravena et al. (2014, p.108, tradução nossa) “é preciso que cesse o círculo vicioso da ilegalidade”
e que estabeleçam as favelas dentro da cidade, com todos os sistemas e infraestruturas que se tem
direito e que não são incorporados atualmente. Para resolver tal problemática a agência
ELEMENTAL parte do processo da autoconstrução, mas sobre uma análise mais profunda de como
essas necessidades se transformarão diante do futuro, e mais ainda, como essas famílias poderão
alcançar determinado espaço na cidade chegando à classe média. Para isso eles propõem a
participação social na estruturação dessas habitações, que por consequência terão seus custos
reduzidos.
A agência utiliza materiais pré-fabricados, pois para Aravena et al. (2014), esses materiais se
definem como elementos de montagens de qualidade e tem vantagens sobre os aspectos de tempo
de trabalho e, principalmente, de custo. A desvantagem da utilização desse material está presente
na estandardização e monotonia estética que os elementos pré-fabricados apresentam como
aspecto, onde as casas acabam por constituir formas repetitivas na paisagem urbana. Para
solucionar tal estandardização, a agência ELEMENTAL constrói espaços de concepção com ampla
participação das próprias famílias usuárias. No sentido de resolver a questão financeira, uma vez
que o orçamento é sempre pequeno, o grupo Elemental propõe a construção do que eles chamam
de “meia-casa”, uma solução ousada de construção de parte da casa que seria a parte necessária
para a sobrevivência da família e, ao mesmo tempo a de construção mais elaborada tecnicamente
e deixam a outra metade para as famílias construírem de acordo com suas possibilidades e
necessidades.
5. CONCLUSÃO
Esta pesquisa é um pequeno passo no sentido de promover uma mais ampla reflexão sobre a práxis
contemporânea da arquitetura e do urbanismo. A intenção é, ao debater os novos paradigmas que
vêm se afirmando, contribuir para a construção de uma prática mais consciente e mais
comprometida com as necessidades da ampla maioria da população mundial. Segundo Thomas
Kuhn, o conceito de paradigma é o que “prepara basicamente o estudante para ser membro da
comunidade científica na qual atuará mais tarde” (2009, p. 31). Na verdade, o sentido clássico de
paradigma traz em si a ideia de modelo. Para Khun, os modelos que orientam o conhecimento
científico, isto é, os paradigmas, cumprem a finalidade de facilitar a integração, através da
assimilação de uma espécie de mapa do conhecimento ou de um roteiro de como agir, de como
resolver as questões que se colocam, ou seja, roteiro ou mapa que seriam necessários como um
suporte básico de conhecimentos à concepção e recepção das teorias, dos problemas, das
soluções científicas. Kuhn, no entanto, não fica satisfeito com estas constatações. Ele vai além e
argumenta que da mesma maneira que orientam, os paradigmas podem cristalizar um determinado
“roteiro” de ações ou soluções como o mais adequado, ou mesmo o único possível. As mudanças,
a substituição de paradigmas se dá pelo conflito, se apresenta como uma ruptura, na qual o novo
paradigma assume o papel de orientação que o antigo desempenhava.
É neste sentido que se coloca a importância de se identificarem teorias e práticas focadas na
construção de processos promotores ou facilitadores da inclusão social, focadas na construção da
sustentabilidade ambiental, no respeito aos direitos humanos, especialmente o direito à cidade e à
moradia, focadas na construção da cidadania e da urbanidade, paradigmas que parecem ser,
parafraseando Montaner (2011), ensaios para mundos alternativos.