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2. MÉTODOS DE PESQUISA
Adotou-se, como metodologia para o desenvolvimento da pesquisa, uma revisão bibliográfica sobre
o conceito de agricultura urbana a partir da perspectiva da justiça socioambiental e a análise do
estudo de caso, realizada a partir da coleta de dados secundários sobre o assentamento do
Gramorezinho, incluindo os regramentos urbanísticos e ambientais incidentes sobre ele, com visitas
a órgãos públicos (níveis Federal, Estadual e Municipal), assim como dos estudos e das propostas
referentes à regulamentação da ZPA 9.
3. DISCUSSÃO: AGRICULTURA URBANA E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL
Os estudos sobre a prática da agricultura urbana têm ganhado visibilidade nas últimas décadas.
Segundo Miriam Zaar (2011), o tema começa a ser mais debatido a partir da década de 1980, fato
que provavelmente está relacionado com a intensificação das discussões em torno da questão
socioambiental. Apesar disso, é fato que a atividade agrícola nas cidades não é recente, tendo sido
verificada em diversos momentos da história, a exemplo dos
hortus
, na Roma Antiga, dos
jardins
ouvriers
, na França pós-revolução industrial, e dos v
ictory gardens
, nos Estados Unidos no período
das duas grandes guerras mundiais. Nessas referências, a principal razão para o cultivo e a criação
de animais nas cidades era a obtenção de alimentos e, atualmente, outras razões se somam a essa
e motivam a sua prática, tais como: o ativismo social, a obtenção de renda, a preocupação com o
meio ambiente, a busca por novas formas de lazer e ocupação, entre outras.
Para entender a agricultura urbana, é preciso que se discuta a ideia da existência de uma dicotomia
na relação cidade-campo. Mais que opostos, os pares cidade/campo e urbano/rural são dimensões
complementares e, diferente do que o senso comum tende a acreditar, o campo não é lugar
exclusivo das atividades primárias, assim como na cidade não se desenvolvem apenas atividades
terciárias (serviço e comércio) e industriais. Nesse sentido, tanto a cidade pode abarcar atividades
agrícolas, a exemplo das iniciativas de agricultura urbana, como também o próprio campo,
especialmente a partir da industrialização, já abriga outros tipos de atividades que têm sido
associadas ao urbano, como as atividades de lazer e turismo (pesque-pague, hotéis fazenda e
chácaras de lazer) e a segunda residência em condomínios fechados, conforme demonstra o
trabalho de José Graziano da Silva (1997).
Contudo, há autores que afirmam que o urbano, conjunto de características que define o fragmento
de espaço da cidade, tende a se expandir e a ressignificar o rural. Inserem-se, nessa perspectiva
teórica, os conceitos de urbanização extensiva, discutido por Roberto Monte-Mór (2006) e de
urbanização dispersa, abordado por Ester Limonad (2006), ambos com vínculos na ideia de
sociedade urbana, elaborada por Henri Lefebvre (2006). Todas essas expressões constituem a
síntese de um mesmo processo, que se intensificou a partir da industrialização, em que o urbano já
não se limita ao perímetro físico da cidade, se expandindo para outros fragmentos de espaço
através de um conjunto de costumes, valores e atividades. Lefebvre (2006), chama atenção para a
influência da sociedade urbana sobre o mundo rural, destacando a presença de alguns movimentos,
serviços ou equipamentos: segundas residências no campo, serviços de abastecimento de água e
a energia, o automóvel, a televisão, o mobiliário moderno, os costumes das cidades e uma
constante preocupação com o futuro.