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Diante deste universo de possibilidades, surgem novos estudos sobre a forma urbana, e algumas
pesquisas apontam para as relações entre a morfologia das cidades e a vegetação urbana. Dessa
forma o presente trabalho pretende explorar a pertinência da forma urbana em relação aos
requisitos de insolação e quantidade de áreas permeáveis necessários para a produção urbana de
alimentos. O estudo exploratório será realizado nos tipomorfológicos da superquadra 308 de
Brasília, pela crítica incidente sobre a monofuncionalidade dos espaços abertos, e por seu projeto
incluir estratégias considerando a insolação local e a inserção de grandes áreas com vegetação.
A partir disso, a intenção é contribuir com a discussão sobre a inserção da agricultura urbana na
superquadra de Brasília, tendo em vista de que a produção de alimentos no local é oportuna, por
promover inúmeros benefícios. Além de identificar a pertinência da forma sob a perspectiva da
insolação e das áreas permeáveis, outras abordagens teóricas são necessárias para efetivar as
possibilidades de inserção de estratégias para a produção urbana de alimentos no local,
A intenção não é advogar a favor, nem contra a cidade moderna, apenas analisar o potencial de
insolação e das áreas permeáveis disponíveis na superquadra, já que a carência destes requisitos
nos centros urbanos, é um dos problemas usuais à inserção de áreas de paisagismo produtivo nas
cidades. Observa-se que os espaços abertos da superquadra apresentam adequada flexibilidade
nos espaços abertos, permitindo a inserção de vegetação e de várias outras funções que podem
ativar a convivência das pessoas. A finalidade é fomentar o diálogo sobre a inserção do paisagismo
produtivo nos centros urbanos, para contribuir com a transformação das cidades, em direção a
lugares mais sustentáveis e resilientes.
1.1
Desafios e oportunidades da agricultura urbana: multifuncionalidade da paisagem
urbana
Historicamente, a agricultura urbana é usual nas cidades de vários países, pois possibilita a
integração de múltiplas funções em áreas densamente povoadas. (BENISTON e LAL, 2012) Na
Idade Média as hortas domésticas se tornaram populares, na América Latina, Machu Picchu é um
exemplo de cidade do século 16, construída para apoiar a produção de alimentos. Hoje muitas
cidades têm programas de agricultura urbana, nos Países Baixos existem 250.000 jardins
comunitários, com 4.000ha de terras destinadas as hortas urbanas. Amsterdam tem 350ha de terras
ocupadas por jardins comestíveis. Nos EUA, em Nova York, existem mais de 600 hortas
comunitárias, produzindo para cerca de 20.000 habitantes urbanos. (LOVELL, 2010)
Os sistemas de produção de alimentos urbanos, surgem de diversas formas, ora como jardins
privados, ora como ações comunitárias. Existem jardins comestíveis nas coberturas das
edificações, hortas verticais, pomares urbanos, paisagismo produtivo em edifícios institucionais,
como escolas e hospitais. (BRENDA, STACY E SHALENE, 2015).
Atualmente, a difusão dos diversos benefícios da agricultura urbana desperta o interesse dos
planejadores urbanos para o potencial destes sistemas. Para Sattler, (2004) a agricultura urbana é
fundamental na construção de cidades resilientes, pois além de contribuir para a segurança
alimentar, mitiga o impacto ambiental da produção de alimentos, é uma boa forma de inserção de
vegetação no meio urbano e, consequentemente, de resgatar a fauna urbana. Estas ações podem
ocorrer em diversas escalas da cidade, beneficiam o microclima urbano e aproximam as pessoas
da natureza.
Além dos jardins produtivos contribuírem para a conservação da biodiversidade, particularmente
quando diversas espécies nativas são integradas, estes lugares têm serviços adicionais para as
cidades (LOVELL, 2010). O aumento da diversidade de plantas nativas e a redução de superfícies
impermeáveis são características que podem fornecer serviços importantes para os ecossistemas,
como a polinização, o controle de pragas e a resiliência climática. (BENISTON e LAL, 2012)