637
lote urbano de 60m² na Austrália, em Melbourne, é possível produzir anualmente 70kg de vegetais
e 161kg de frutas. Já em um lote urbano da Califórnia, perto de Los Angeles, em cerca de 1.300m²
uma família chega a produzir 3 toneladas de produtos orgânicos, por ano. Estes resultados
dependem de muitas variáveis, sendo necessário um experimento prático na superquadra de
Brasília para verificar a capacidade de produção de alimentos no local.
A energia solar representa um dos fatores que contribui para a produção e o crescimento das
plantas no cerrado, assim como os baixos índices pluviométricos e a baixa fertilidade do solo podem
impedir o potencial de crescimento de algumas espécies. A radiação solar que atinge Brasília é
abundante para o suprimento das reações de fotossíntese, isto explica a grande biodiversidade de
fauna e flora do bioma do Cerrado. (EMBRAPA, 2008)
Neste contexto a forma de implantação dos edifícios tem grande influência nas possibilidades de
produção de alimentos. Quando um edifício se sobrepõe aos demais, sua sombra pode diminuir a
capacidade de plantio de espécies comestíveis no pavimento térreo, e nas fachadas dos edifícios
vizinhos. Portanto, a compreensão das interações entre a geometria solar, os edifícios e os espaços
abertos é fundamental para a concepção da forma e dos usos destes espaços. No processo de
concepção da forma dos edifícios, o fator da geometria solar pode ser determinante para a produção
de alimentos, assim como para a qualidade ambiental de outros requisitos, tais como os
relacionados a eficiência energética dos edifícios.
A lógica geométrica da distribuição dos edifícios na superquadra, as distâncias entre estes, as
alturas variando entre 4 e 6 pavimentos no máximo foi pensada de maneira a considerar o acesso
ao sol nos edifícios e espaços abertos, como garantia de qualidade para estes ambientes.
Considerar a insolação no processo de projeto era uma das recomendações propostas na Carta de
Atenas (1933). No entanto, neste período não era considerado relevante as possibilidades de
inserção do paisagismo produtivo.
Nas figuras 2 e 3 se pode analisar o comportamento das sombras geradas pelos edifícios no solo
e, respectivamente, o potencial médio de insolação diária. Gerado pelo programa SunHours, a
escala de cores projetadas no solo tem seus extremos representados pelas cores vermelho e o
azul. Sendo que a cor vermelha escura representa cerca de 10 horas de insolação e a azul mais
escura, representa cerca de 2 horas de insolação nos solstícios de inverno e verão.
O mapa do solstício de inverno, apresenta áreas mais sombreadas comparado ao mapa do solstício
de verão. Porém é perceptível que a insolação nos núcleos livres do térreo, entre as edificações,
apresenta cerca de 8 a 10 horas de sol durante todo o dia, em ambos os períodos analisados.
Valores estes que viabilizam a produção de hortaliças, leguminosas e frutíferas, além de outras
espécies.
O manual para cultivo de hortaliças do programa de agricultura urbana de São Paulo, por exemplo,
recomenda que a exposição solar das áreas para cultivo seja de no mínimo 4 horas diárias, sendo
que algumas espécies de hortaliças necessitam de no mínimo 6 horas diárias. (MARTINS,
BEVILACQUA E SHIRAKE, 2006). Claro, que existem espécies comestíveis que se adaptam a
condições menos favoráveis de insolação, como espécies que nascem nas bases da floresta
Amazônica, entretanto estas plantas não são usuais na culinária doméstica.
Através da análise dos mapas é possível constatar que o ideal moderno sob a perspectiva da
insolação foi uma diretriz importante na concepção da forma urbana de Brasília, um dos fatores
relevantes nas possibilidades de inserção do paisagismo produtivo.