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do ambiente construído é de grande importância para o desenvolvimento das relações e convivência

saudável, principalmente quando se trata de educação. Pesquisas que relacionam a neurociência

à arquitetura e ao ambiente construído reforçam esta premissa. A

Academy of Neuroscience for

Architecture

(ANFA, 2013), por exemplo, defende que um ambiente escolar construído de maneira

responsável e ajustado às necessidades do usuário pode beneficiar a aprendizagem.

Na visão de Sattler (2007) o projeto de lugares mais sustentáveis deve transmitir às pessoas como

elas devem viver, como ser mais eficiente em termos de energia e recursos hídricos, como

empregar materiais de baixa energia incorporada ou de emissão zero de carbono, como utilizar

madeira de manejo sustentável, como evitar o descarte de materiais tóxicos e fazer a compostagem

de materiais orgânicos, como evitar a destruição da paisagem circundante e a diversidade biológica,

como produzir alimentos no próprio local em harmonia com espaços de convivência.

A escola é o primeiro lugar que acolhe a criança quando se ultrapassa a esfera familiar, onde se

oferecem oportunidades de evoluir as habilidades sociais e cognitivas exponencialmente e, assim,

se desenvolve a primeira noção de coletividade, autonomia e independência. Sabendo que a fase

infantil é determinante na formação da personalidade dos indivíduos e que a permanência de

valores e preceitos adquiridos durante a infância pode perdurar durante toda a vida, acredita-se que

em tal fase pode estar o potencial para realizar essa mudança de paradigma e, portanto, ela deve

ser tratada com cuidado, amparo e sensatez pela sociedade.

Por acolher uma fase tão importante na formação dos indivíduos, à escola cabe, portanto, lidar com

essa responsabilidade de modo a passar valores e aptidões que ajudem a um futuro

desenvolvimento saudável. A lembrança de sua estrutura física – sua fachada, salas de aulas,

ambientes internos e externos – também tende a permanecer. Junto a isso, as experiências

promovidas no contexto desses ambientes são de extrema importância, por evocar também

sentimentos e sensações vividos nesses lugares. Parte-se da premissa que o sistema

educacional, bem como o espaço onde ele atua, deve permitir que certas habilidades, de grande

importância para o desenvolvimento saudável da criança, sejam praticadas (autonomia,

autoconfiança, capacidade de crítica, etc...).

Da crença em que a reconstrução intencional do espaço da educação infantil, no futuro poderia

provocar mudanças no modo de vida dos adultos formados nessa nova ambiência, buscou-se

desenvolver, projetar e construir o conceito de uma nova escola primária. A Cidade Estrutural no

Distrito Federal, onde a escola seria implantada, tem alta demanda por instituições de ensino,

grande parte das crianças em idade pré-escolar que vive na região, atualmente não estuda.

Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2013/2014, feita na Região

Administrativa SCIA/Estrutural, existem, aproximadamente, 4 mil crianças de até seis anos na

cidade e nenhuma creche pública, a pesquisa indica também que existem cerca de 3.500 crianças

desta faixa etária fora da escola.

Trata-se de uma das regiões mais pobres do Distrito Federal, grande parte de sua população é

formada por catadores de lixo que tem como fonte de renda o “lixão”, localizado nas proximidades

da Cidade Estrutural e do Parque Nacional de Brasília, onde teve início o processo de formação do

assentamento. Muitas das moradias ainda são do tipo “barraco” e a cidade possui péssimas

condições de saneamento básico, educação, saúde, segurança e infraestrutura.

Neste sentido, a construção de uma creche e pré-escola pública na área central dessa região

administrativa pode representar uma transformação na vida das famílias que moram ali. Com a

possibilidade de deixar os filhos aos cuidados da instituição, mães e pais teriam mais oportunidades

de trabalhar e aumentar a renda familiar. Além disso, sabe-se que muitas destas famílias não

contam com a figura paterna e, portanto, as mães têm o desafio de trabalhar, sustentar a família e

cuidar dos filhos. Por isso, acredita-se que a Casa de Brincar apresentaria um impacto na qualidade