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1. INTRODUÇÃO
As infraestruturas verdes são um instrumento significativo no desenvolvimento sustentável das
cidades, com impacto em escala urbana e da edificação. Trata-se de alternativas à infraestrutura
comum de transporte de escoamento, para redução dos impactos da rápida urbanização
(PREGNOLATO et al., 2016).
O LID (
low impact development
) compreende tecnologias de infraestrutura verde para gestão de
águas pluviais que reduzam o impacto da urbanização nos processos hidrológicos. A influência das
técnicas de LID é considerável principalmente em áreas urbanas densas, com pouca
permeabilidade de solo (SCHMITTER et al., 2016). Estas áreas são muito vulneráveis a enxurradas
quando há grandes precipitações, por não permitirem infiltração da água, aumentando o volume de
água na infraestrutura de transporte de escoamento para além da capacidade máxima.
O investimento em gestão urbana de risco de inundação costuma obter um custo-benefício muito
maior do que investimentos em infraestrutura de transporte de escoamento (PREGNOLATO et al.,
2016). A gestão, segundo os autores, consiste em uma série de estratégias que visam à melhoria
da resiliência urbana à inundação, como as SUDS (
sustainable urban drainage systems
), que
utilizam processos naturais para aumentar a retenção e infiltração da água.
As coberturas verdes constituem-se em uma estratégia de LID e de SUDS que auxilia tanto na
retenção de água, quanto na retenção de poluição urbana difusa que provêm de veículos, indústrias,
etc. (SPEAK et al., 2014). Elas podem ser intensivas ou extensivas (espessura maior ou menor que
20 cm); sua composição possui basicamente as camadas de vegetação, crescimento, drenagem e
membrana impermeável, podendo ter outras camadas; seus benefícios ambientais se estendem
desde o conforto térmico urbano (redução de ilhas de calor urbanas) e da edificação até aspectos
como qualidade do ar, economia de energia, biodiversidade, entre outros (BERARDI;
GHAFFARIANHOSEINI; GHAFFARIANHOSEINI, 2014).
As ilhas de calor urbanas resultam das propriedades térmicas das superfícies e da falta de
evapotranspiração das áreas urbanas, o que justifica a importância do resgate das áreas verdes na
paisagem urbana: a vegetação é o elemento-chave na solução deste problema, fazendo parte da
criação de um novo estilo de vida urbano (WONG et al., 2010).
Apesar de seus múltiplos benefícios ambientais já conhecidos no meio científico, a questão da
composição ideal do sistema é de grande complexidade, envolvendo muitas variáveis. A
inadequação desta composição pode resultar na insuficiência das funções esperadas (KOK et al.,
2016). Dependendo de diversos fatores, seu impacto na redução do volume de escoamento ou na
melhoria da qualidade deste, por exemplo, pode ser positivo ou negativo (HARPER et al., 2015).
Este artigo tem o objetivo de apresentar de forma crítica e sistêmica uma revisão de literatura
científica recente, nacional e internacional, a respeito das variações de desempenho que a
cobertura verde pode apresentar. A maioria dos artigos considerados na revisão são de 2014, 2015
e 2016, constando de pesquisas publicadas até a data de agosto de 2016 e não havendo artigos
anteriores a 2010. Ao todo, 102 artigos foram analisados e, destes, 46 foram citados nesta pesquisa.
Para tal, a pesquisa se estruturou em dois grandes tópicos: a retenção do volume de escoamento
e a qualidade do mesmo, que foram considerados aspectos-chave para apresentação das variações
de desempenho. Em seguida, o material resultante desta investigação bibliográfica foi analisado
criticamente como um todo nas discussões, através de cruzamento de dados e apresentação de
diretrizes possíveis de acordo com o conhecimento científico atual.