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Nesse sentido, a acessibilidade é complexa e multidimensional, considerando barreiras físicas e
psicológicas que dificultam ou até impedem o aproveitamento integral dos espaços. Os estudos
ambiente-comportamento, também chamados de Psicologia Ambiental, tratam das relações entre
os indivíduos e os ambientes físicos em que estão inseridos (GIFFORD, 2007). Por “psicologia”
neste contexto, entende-se aquilo que está presente no ambiente e que afeta o comportamento ou
sentimentos (SHAFTOE, 2008). As relações espaço-usuário, positivas ou problemáticas, são
dinâmicas e mutáveis. O estabelecimento de certos padrões comportamentais nos ambientes, os
chamados
behavior settings
(BARKER, 1968), pode promover barreiras psicológicas como
insegurança, desinteresse, incompatibilidade, e até mesmo a segregação. Em 1986, Gibson referiu-
se a estas relações através do termo
affordance
que vem do verbo da língua inglesa
afford,
o qual
pode ser traduzido por “permitir”. O que o ambiente permite ao usuário depende não só do que ele
oferece, mas também da forma com que diferentes usuários podem ou desejam recebê-lo
(GIBSON, 1986). Tanto Barker (1968) quanto Gibson (1986) utilizam-se de uma perspectiva
ecológica, onde ambiente e comportamento influenciam e são influenciados um pelo outro. Assim,
assume-se que quando um espaço não acomoda confortavelmente determinados usos e ou
comportamentos, usuários que se identificam com estes padrões podem passar a evitar o local.
Estas barreiras são condicionantes da segurança e do bem-estar, principalmente para idosos e
jovens, duas das faixas etárias mais vulneráveis socialmente, significando que a fase da vida é um
dos fatores decisivos na acessibilidade ambiental e equidade (CARMONA; MAGALHÃES;
HAMMOND, 2008). Apesar de representarem lados opostos na linha da vida, estes grupos etários
possuem semelhanças. Jovens utilizam os espaços públicos para desenvolver habilidades sociais,
físicas e psicológicas longe do controle dos pais (PEACE, 2005). Já os idosos têm nestes espaços
a oportunidade de manutenção das mesmas habilidades, uma vez que o processo de
envelhecimento causa o afastamento de redes sociais mantidas por trabalho e educação além das
perdas físicas. Além disso, Layne, em 2009, desenvolveu um estudo baseado nas
affordances
sobre as semelhanças perceptivas ambientais entre estes grupos, buscando a integração etária,
através do convívio intergeracional, reconhecido por representar ganho mútuo entre as gerações
envolvidas, além de ter o potencial de diminuir preconceitos etários através do reconhecimento das
diferenças. Entretanto, mesmo que estudos afirmem a importância do ambiente físico, natural e
cultural no atendimento às necessidades sociais e de desenvolvimento de jovens e idosos (LAYNE,
2009), os estudos do ambiente, comportamento e urbanismo, apresentam pouca investigação
quanto ao papel do ambiente para oportunizar ou inibir o convívio entre estas faixas etárias. Assim,
este estudo busca contribuir no entendimento da dinâmica etária urbana através do aprofundamento
na percepção ambiental e no comportamento dos dois grupos.
1.1. Sustentabilidade e Estudos Ambiente-Comportamento
A preocupação com os efeitos da humanidade sobre o meio ambiente são relativamente recentes.
O conceito de sustentabilidade vem sendo discutido e aprimorado continuamente. Nesse sentido,
autores em diversas áreas do conhecimento empregam diferentes visões acerca do tema. Algumas
delas apoiam-se na própria etimologia da palavra. O termo sustentável tem origem
no latim
sustentare
: sustentar, apoiar e conservar. Sachs (2002) definiu sete dimensões da
sustentabilidade:
social
(menor distanciamento entre classes sociais);
econômica
(questões sociais
como forma de avaliar a economia);
ecológica
(racionalização do uso de recursos esgotáveis);
territorial
(distribuição mais equilibrada entre campo/cidade);
ambiental
(respeito à capacidade de
autodepuração dos ecossistemas);
política (
democracia e os direitos humanos); e
cultural
(
valorização de especificidades de modo a dar continuidade às diferentes culturas).