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1943

Nesse sentido, a acessibilidade é complexa e multidimensional, considerando barreiras físicas e

psicológicas que dificultam ou até impedem o aproveitamento integral dos espaços. Os estudos

ambiente-comportamento, também chamados de Psicologia Ambiental, tratam das relações entre

os indivíduos e os ambientes físicos em que estão inseridos (GIFFORD, 2007). Por “psicologia”

neste contexto, entende-se aquilo que está presente no ambiente e que afeta o comportamento ou

sentimentos (SHAFTOE, 2008). As relações espaço-usuário, positivas ou problemáticas, são

dinâmicas e mutáveis. O estabelecimento de certos padrões comportamentais nos ambientes, os

chamados

behavior settings

(BARKER, 1968), pode promover barreiras psicológicas como

insegurança, desinteresse, incompatibilidade, e até mesmo a segregação. Em 1986, Gibson referiu-

se a estas relações através do termo

affordance

que vem do verbo da língua inglesa

afford,

o qual

pode ser traduzido por “permitir”. O que o ambiente permite ao usuário depende não só do que ele

oferece, mas também da forma com que diferentes usuários podem ou desejam recebê-lo

(GIBSON, 1986). Tanto Barker (1968) quanto Gibson (1986) utilizam-se de uma perspectiva

ecológica, onde ambiente e comportamento influenciam e são influenciados um pelo outro. Assim,

assume-se que quando um espaço não acomoda confortavelmente determinados usos e ou

comportamentos, usuários que se identificam com estes padrões podem passar a evitar o local.

Estas barreiras são condicionantes da segurança e do bem-estar, principalmente para idosos e

jovens, duas das faixas etárias mais vulneráveis socialmente, significando que a fase da vida é um

dos fatores decisivos na acessibilidade ambiental e equidade (CARMONA; MAGALHÃES;

HAMMOND, 2008). Apesar de representarem lados opostos na linha da vida, estes grupos etários

possuem semelhanças. Jovens utilizam os espaços públicos para desenvolver habilidades sociais,

físicas e psicológicas longe do controle dos pais (PEACE, 2005). Já os idosos têm nestes espaços

a oportunidade de manutenção das mesmas habilidades, uma vez que o processo de

envelhecimento causa o afastamento de redes sociais mantidas por trabalho e educação além das

perdas físicas. Além disso, Layne, em 2009, desenvolveu um estudo baseado nas

affordances

sobre as semelhanças perceptivas ambientais entre estes grupos, buscando a integração etária,

através do convívio intergeracional, reconhecido por representar ganho mútuo entre as gerações

envolvidas, além de ter o potencial de diminuir preconceitos etários através do reconhecimento das

diferenças. Entretanto, mesmo que estudos afirmem a importância do ambiente físico, natural e

cultural no atendimento às necessidades sociais e de desenvolvimento de jovens e idosos (LAYNE,

2009), os estudos do ambiente, comportamento e urbanismo, apresentam pouca investigação

quanto ao papel do ambiente para oportunizar ou inibir o convívio entre estas faixas etárias. Assim,

este estudo busca contribuir no entendimento da dinâmica etária urbana através do aprofundamento

na percepção ambiental e no comportamento dos dois grupos.

1.1. Sustentabilidade e Estudos Ambiente-Comportamento

A preocupação com os efeitos da humanidade sobre o meio ambiente são relativamente recentes.

O conceito de sustentabilidade vem sendo discutido e aprimorado continuamente. Nesse sentido,

autores em diversas áreas do conhecimento empregam diferentes visões acerca do tema. Algumas

delas apoiam-se na própria etimologia da palavra. O termo sustentável tem origem

no latim

sustentare

: sustentar, apoiar e conservar. Sachs (2002) definiu sete dimensões da

sustentabilidade:

social

(menor distanciamento entre classes sociais);

econômica

(questões sociais

como forma de avaliar a economia);

ecológica

(racionalização do uso de recursos esgotáveis);

territorial

(distribuição mais equilibrada entre campo/cidade);

ambiental

(respeito à capacidade de

autodepuração dos ecossistemas);

política (

democracia e os direitos humanos); e

cultural

(

valorização de especificidades de modo a dar continuidade às diferentes culturas).