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No urbanismo, sustentabilidade está ligada à qualidade de vida. Gehl (2015) relaciona a vivacidade
dos espaços urbanos a sua capacidade de se manterem ativos, se sustentando enquanto lugares.
Lugares implicam a existência de uma apropriação, espaços com identidade. Consequentemente,
percebe-se a importância do estímulo à conservação, à criação e à tranmissão dessas identidades
no meio urbano ao longo do tempo, entre gerações.
Segundo Gehl (2015) “existem conexões diretas entre as melhorias para as pessoas no espaço da
cidade e as visões para obter cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis”. Na
sustentabilidade urbana está implícita a qualidade ambiental de ruas, parques e espaços ao ar livre,
a promoção de uma vida saudável (MAHDJOUBI; SPENCER, 2015) e de conforto físico e
psicológico. Nesse sentido, Sattler (2007) menciona questões
sensoriais, espirituais e anímicas
da
sustentabilidade, aproximando-a dos sentidos humanos e da psicologia. A parte sensorial é
vinculada à visão, audição, olfato, tato e paladar; a espiritual à contemplação, tranquilidade; já a
anímica, aos sentimentos em um contexto psicológico (SATTLER, 2007).
Através da Psicologia Ambiental sabe-se que o ambiente proporciona um conjunto de estímulos
recebidos e respondidos pelo usuário de forma única e específica. As respostas podem ser:
responsivas (físicas, percebidas por sentidos, relacionadas às questões sensoriais), operacionais
(sociais, percebidas por comportamentos) e inferenciais (psicológicas, percebidas por sensações,
ligadas às questões anímicas) (LAYNE, 2009). Dessa forma, busca-se aqui investigar o papel dos
diferentes modos perceptivos nas escolhas espaciais dos grupos etários estudados.
1.2. Espaço público urbano e relações sociais intergeracionais
O dinamismo das relações usuário-ambiente encontra na adaptabilidade do espaço o suporte a
diversos tipos de usos, atividades e público, tornando-se convidativo e adequado às relações da
diferença, dentre elas, as intergeracionais. Diferentes gerações são estimuladas ao convívio em
espaços que não se limitam a usos, mas que se abrem a potenciais (LAYNE, 2009).
Como óbice a estas relações, está a divisão de usos predeterminados por idade (THANG;
KAPLAN,2013). Em parques e praças tradicionais, áreas de lazer ativo são comumente destinadas
a um público específico e jovem. São multigeracionais, acomodando usos para diversas idades,
mas com uma divisão espacial bem definida, consolidando a segregação ao invés de oportunizar
trocas intergeracionais, necessárias para o fortalecimento do senso de comunidade. Neste sentido,
deve-se buscar "integração etária" em vez de "segregação etária” urbana (MUMFORD,1956) pois
podem haver tensões, principalmente entre jovens e idosos, intimidando certos usuários e fazendo
com que evitem ambientes (HOLLAND et al, 2007). A acentuação das diferenças também camufla
as semelhanças perceptivas entre as duas faixas etárias que vêm sendo discutidas por estudos
internacionais (PEACE, 2005; LAYNE, 2009; THANG; KAPLAN, 2013) e que podem auxiliar a
construção de ambientes inclusivos e acessíveis.
A conexão com a vida pública é uma forma de se manter socialmente ativo, entretanto, sabe-se da
dificuldade de idosos em se apropriar dos espaços urbanos. Suas experiências cotidianas são
caracterizadas por solidão, isolamento, problemas de mobilidade e medo de espaços públicos
desconhecidos (O’ SULLIVAN; MULGAN; VASCONCELOS, 2010). Enquanto isso, jovens estão em
transição entre infância e fase adulta, dificilmente se identificando com espaços projetados para
estas faixas etárias, e são vulneráveis devido à criminalidade, drogas e mudanças na estrutura
familiar (LAYNE,2009). Além disso, grupos jovens são tidos como potencial para crimes, gerando
desconforto e insegurança (HOLLAND et al,2007). Se fatores físicos e psicológicos são decisivos
para acessibilidade e esta influencia diretamente no modo com que o ambiente urbano é utilizado,
julga-se que estes grupos tendem a ter mais dificuldade no uso da cidade.