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1944

No urbanismo, sustentabilidade está ligada à qualidade de vida. Gehl (2015) relaciona a vivacidade

dos espaços urbanos a sua capacidade de se manterem ativos, se sustentando enquanto lugares.

Lugares implicam a existência de uma apropriação, espaços com identidade. Consequentemente,

percebe-se a importância do estímulo à conservação, à criação e à tranmissão dessas identidades

no meio urbano ao longo do tempo, entre gerações.

Segundo Gehl (2015) “existem conexões diretas entre as melhorias para as pessoas no espaço da

cidade e as visões para obter cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis”. Na

sustentabilidade urbana está implícita a qualidade ambiental de ruas, parques e espaços ao ar livre,

a promoção de uma vida saudável (MAHDJOUBI; SPENCER, 2015) e de conforto físico e

psicológico. Nesse sentido, Sattler (2007) menciona questões

sensoriais, espirituais e anímicas

da

sustentabilidade, aproximando-a dos sentidos humanos e da psicologia. A parte sensorial é

vinculada à visão, audição, olfato, tato e paladar; a espiritual à contemplação, tranquilidade; já a

anímica, aos sentimentos em um contexto psicológico (SATTLER, 2007).

Através da Psicologia Ambiental sabe-se que o ambiente proporciona um conjunto de estímulos

recebidos e respondidos pelo usuário de forma única e específica. As respostas podem ser:

responsivas (físicas, percebidas por sentidos, relacionadas às questões sensoriais), operacionais

(sociais, percebidas por comportamentos) e inferenciais (psicológicas, percebidas por sensações,

ligadas às questões anímicas) (LAYNE, 2009). Dessa forma, busca-se aqui investigar o papel dos

diferentes modos perceptivos nas escolhas espaciais dos grupos etários estudados.

1.2. Espaço público urbano e relações sociais intergeracionais

O dinamismo das relações usuário-ambiente encontra na adaptabilidade do espaço o suporte a

diversos tipos de usos, atividades e público, tornando-se convidativo e adequado às relações da

diferença, dentre elas, as intergeracionais. Diferentes gerações são estimuladas ao convívio em

espaços que não se limitam a usos, mas que se abrem a potenciais (LAYNE, 2009).

Como óbice a estas relações, está a divisão de usos predeterminados por idade (THANG;

KAPLAN,2013). Em parques e praças tradicionais, áreas de lazer ativo são comumente destinadas

a um público específico e jovem. São multigeracionais, acomodando usos para diversas idades,

mas com uma divisão espacial bem definida, consolidando a segregação ao invés de oportunizar

trocas intergeracionais, necessárias para o fortalecimento do senso de comunidade. Neste sentido,

deve-se buscar "integração etária" em vez de "segregação etária” urbana (MUMFORD,1956) pois

podem haver tensões, principalmente entre jovens e idosos, intimidando certos usuários e fazendo

com que evitem ambientes (HOLLAND et al, 2007). A acentuação das diferenças também camufla

as semelhanças perceptivas entre as duas faixas etárias que vêm sendo discutidas por estudos

internacionais (PEACE, 2005; LAYNE, 2009; THANG; KAPLAN, 2013) e que podem auxiliar a

construção de ambientes inclusivos e acessíveis.

A conexão com a vida pública é uma forma de se manter socialmente ativo, entretanto, sabe-se da

dificuldade de idosos em se apropriar dos espaços urbanos. Suas experiências cotidianas são

caracterizadas por solidão, isolamento, problemas de mobilidade e medo de espaços públicos

desconhecidos (O’ SULLIVAN; MULGAN; VASCONCELOS, 2010). Enquanto isso, jovens estão em

transição entre infância e fase adulta, dificilmente se identificando com espaços projetados para

estas faixas etárias, e são vulneráveis devido à criminalidade, drogas e mudanças na estrutura

familiar (LAYNE,2009). Além disso, grupos jovens são tidos como potencial para crimes, gerando

desconforto e insegurança (HOLLAND et al,2007). Se fatores físicos e psicológicos são decisivos

para acessibilidade e esta influencia diretamente no modo com que o ambiente urbano é utilizado,

julga-se que estes grupos tendem a ter mais dificuldade no uso da cidade.