1158
1. INTRODUÇÃO
A indústria da água é um grande consumidor de energia, desde a fase da construção das
instalações até a desmobilização final dos equipamentos. A maior parte é consumida nas estações
de tratamento. Tipicamente, o uso de energia representa de 5 a 30% dos custos de operação das
estações no mundo (KANG; CHAE, 2013). A eletricidade é a forma de energia predominante e é
usada para alimentar bombas, válvulas, compressores e outros equipamentos (WANG
et al.
, 2016).
No Brasil, as companhias públicas de abastecimento e saneamento gastaram 2,94 bilhões de reais
com energia em 2010 (VIEIRA, GHISI, 2016). Entender e quantificar o uso de energia na água é
crucial para o uso sustentável dos recursos, através de modelos eficientes, tecnologia, melhor
gerenciamento e escolhas apropriadas para cada projeto. Apesar das políticas de energia e água
serem apresentadas separadamente, sua integração é necessária, uma vez que as decisões
tomadas sobre a água afetam o consumo de energia (VILANOVA; BALESTIERI, 2015a).
Os sistemas tradicionais de água e esgoto são custosos, frequentemente ineficientes e
grandes consumidores de energia (MAHGOUB, 2010). O consumo de energia é considerado uma
das maiores fontes antropogênicas de gases do efeito estufa (GEE) e alguns dos impactos mais
relevantes do aquecimento global (VILANOVA; BALESTIERI, 2015a). Na União Europeia, a
estratégia de energia e mudança climática pretende transformar o modelo atual de economia,
baseado no uso intensivo de recursos, em um novo modelo de crescimento sustentável (SANTOS
et al
., 2016). Garantir a segurança energética e hídrica e reduzir as emissões de carbono é
importante no planejamento das cidades (SINGH; KANSAL, 2016). Tornar uma estação de
tratamento de esgoto (ETE) autossustentável em energia pode melhorar sua rentabilidade
(METCALF & EDDY, 2016) e diminuir a emissão de GEE. Contudo, ainda é difícil demonstrar
quantitativamente esses benefícios e maiores estudos são necessários para superar as barreiras
políticas, comportamentais, financeiras e técnicas (CATARINO; HENRIQUES, 2016). O consumo
de energia no setor parece estar subpesquisado e necessita de mais exploração (VARBANOV
et
al
., 2015). Existe uma falta de conhecimento, não estando claro como o consumo de energia varia
em diferentes processos e países (WANG
et al.
, 2016).
2. OBJETIVO
Este trabalho tem o objetivo de explorar informações sobre o consumo de energia no setor
de esgoto, durante as etapas do sistema, e comparar o cenário brasileiro com o mundial. Este
mapeamento é importante para sugerir alternativas que visem aumentar a eficiência energética das
ETEs, com ganhos econômicos e ambientais.
3. REVISÃO DA LITERATURA
A maioria das revisões na literatura, sobre o consumo energético em ETE, é específica para
determinadas regiões ou processos, destacando-se BODÍK e KUBASKÁ (2013), LONGO
et al.
(2016) e PANEPINTO
et al
. (2016). Outras revisões envolveram o setor como um todo, como
fizeram LEMOS
et al
. (2013) e WAKEEL
et al
. (2016). Segundo SINGH e KANSAL (2016), do total
de energia consumido, 70% é usada para operação e 30% na construção. Nas ETEs da América
do Norte, devido ao grande volume de esgoto tratado, 94% da energia gasta está na fase de
operação da planta (WAKEEL
et al.
, 2016). Os dados sobre esse consumo no Brasil são escassos.
O consumo de energia no bombeamento de esgoto para a ETE depende de vários fatores.
SINGH e KANSAL (2016) estimaram o consumo em 0,09kWh/m
3
na Índia, ou 45,3% do total usado