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1981

questionamento sobre os valores de uso, em transformação. São diferentes necessidades e a

necessidade de adaptar a democracia à terceira revolução urbana, desde o governo da cidade à

governança metapolitana. Conforme o autor “o urbanismo deve ser multissensorial, estilisticamente

aberto, reativo, convergente. ” (ASCHER 2010, p. 98)

4.2 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E A ATUAÇÃO DOS AGENTES PRODUTORES DO

ESPAÇO NO CONTEXTO BRASILEIRO

Como ponto de partida é importante o reconhecimento do Brasil como um país de grandes

desigualdades sociais. Neste cenário pode-se questionar sobre a exceção e a regra nas cidades

brasileiras, e sobre o que seria um ou outro. A informalidade da construção civil, que compreende

aproximadamente 50% do setor da construção é assunto urgente no contexto brasileiro. Conforme

Maricato (2013, p.37) “trata-se de um imenso empreendimento, bastante descapitalizado e

construído com técnicas bastante arcaicas, fora do mercado formal”. Mais do que a informalidade,

as causas e impactos da mesma são questão relevante para o entendimento das relações entre os

agentes produtores do espaço no contexto brasileiro.

Souza (2004) apresenta uma crítica ao planejamento a partir de “perspectivas mercadófilas” ou “os

ataques conservadores contra o planejamento regulatório”. O autor entende as estratégias de

planejamento mercadófilo como estratégias que “rompem com o espírito regulatório ainda

francamente hegemônico nos anos 70, na medida em que deixam de tentar domesticar ou

disciplinar o capital para, pelo contrário, melhor ajustarem-se aos seus interesses, inclusive

mediatos.” Esta lógica de mercado, capaz de favorecer a investidores privados entende a cidade

como produto, um produto de mercado onde a equação de sua produção reserva grande parcela

aos agentes privados.

Com o foco na moradia, Rolnik (2015) traz o entendimento da moradia na “era das finanças” como

mercadoria e como especulação. A partir deste entendimento coloca que a “financeirização global

da moradia” apresenta impactos sociais a partir da contração de dívidas. Conforme a autora:

Através do financiamento imobiliário para a compra da casa própria, a expansão do mercado global de

capitais apoiou-se no endividamento privado, estabelecendo um vínculo íntimo entre a vida biológica

dos indivíduos e o processo global de extração de renda e especulação. A canalização dos fluxos de

capital excedente sobre os imóveis residenciais tem, também, portanto, uma dimensão vivida: as vidas

hipotecadas ou a geração de homens e mulheres endividados, uma nova subjetividade produzida pelos

mecanismos disciplinares que sujeitam a própria vida ao serviço da dívida. (ROLNIK 2015, p.40).

O território formal é fruto de especulação e o acesso ao território revela a hierarquia social, uma vez

que é regido por mercado. O resultado disto é uma sentença simples: pobres ocupam áreas ilegais

e constroem irregularmente. A valorização da terra gera o isolamento por falta de atividade próximas

e custo do transporte. O crescimento das cidades e a consequente suburbanização gerada pela

valorização do território e expulsão de população com menor poder aquisitivo gera, portanto,

problemas sociais.

Ainda a segregação não se dá somente com as classes sociais mais baixas. Ela é generalizada no

contexto brasileiro. A busca de proteção da violência urbana em cidades de grandes desigualdades

sociais, manifesta-se pelas classes mais ricas sob a forma de condomínios fechados ou

condomínios clube e de loteamentos fechados. É importante frisar a ilegalidade de loteamentos

fechados conforme a lei do parcelamento urbano (BRASIL 1979). Mesmo que a lei de parcelamento

do solo brasileira não reconheça e os loteamentos fechados e estabeleça que as vias devem ter