Table of Contents Table of Contents
Previous Page  1980 / 2158 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 1980 / 2158 Next Page
Page Background

1980

ser responsável pelo monitoramento das transformações urbanas, no sentido de garantir o direito à

cidade a todos os cidadãos. Harvey traz o exemplo de como uma estratégia de planejamento é

capaz de transformar a estrutura urbana. O exemplo de Paris, apresentado por Harvey (2014) ilustra

como a “cidade luz” contemporânea, um centro de compras, turismo, luxo e entretenimento não

existiria sem financiamento. Trata-se de uma estratégia urbana que, financiada pela dívida, é capaz

de transformar a identidade de uma cidade, trazer como consequências o buscado retorno

financeiro, mas também impacto social. O ponto em interesse em tal exemplo é o custo social desta

estratégia, uma vez que a estratégia de modernização de Paris passa por um novo traçado urbano

em nome de “higienização” e a consequente expulsão de população local.

A economia atual opera práticas do capital especulativo em detrimento das pessoas, onde se

entende que uma cidade por ir bem ainda que a população (exceto uma classe privilegiada) e o

meio ambiente estejam mal.

“Elas estimulam o crédito hipotecário de alto risco, alimentando por mitos simplórios sobre os benefícios

da casa própria para todos e o arquivamento das hipotecas ‘tóxicas’ em obrigações de assunção de

dívida altamente valorizadas a serem vendidas a investidores crédulos. Elas também estimulam uma

suburbanização infinita que consome muito mais terra e energia do que seria razoável para a

sustentabilidade do nosso planeta como habitat humano” (HARVEY 2014, p. 73)

Práticas urbanas predatórias e capital fictício demonstram uma urbanização do capital. Os bens

comuns urbanos bem como os serviços mínimos, na contemporaneidade transformam-se em

mercadoria alinhados à economia. Iniciativas contemporâneas de economia neoliberal reservam ao

mercado econômico grande responsabilidade e delegam, a partir da lógica do Estado Mínimo, ao

poder privado mercados como o saneamento básico e a habitação. Surge a partir desta lógica o

questionamento sobre qual seria o papel do Estado, uma vez que os interesses são, em essência,

a geração de lucro e nem sempre suas práticas estão aliadas ao bem-estar da sociedade. Entende-

se a partir das práticas de gestão urbana sob a forma de mercados, um grande risco para a

sociedade.

[...] mercados fundiários e imobiliários fluidos e outras instituições de apoio – como a proteção aos

direitos de propriedade, ao cumprimento dos contratos e ao financiamento de moradia – terão

provavelmente um maior florescimento com o tempo, à medida que as necessidades do mercado se

forem transformando. Cidades bem-sucedidas abrandaram as leis de zoneamento de modo a permitir

que os usuários abastados pudessem comprar as terras mais valiosas – e adotaram regulamentações

do preço da terra que permitissem a adaptação aos seus usos, mutáveis ao longo do tempo” (HARVEY

2009 apud HARVEY 2014)

Ainda segundo as palavras de Lefebvre, percebe-se a relação entre direitos humanos e a

organização da cidade. A partir da colocação entende-se o bem-estar como um valor social a ser

perseguido como garantia do direito à cidade.

O direito à cidade não pode ser concebido como um simples direito de visita e retorno às cidades

tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada. Pouco importa

que o tecido encerre em si o campo e aquilo que sobrevive da vida camponesa conquanto que ‘o

urbano’, lugar de encontro prioridade do valor de uso, inscrição no espaço de um tempo promovido à

posição do supremo bem entre os bens, encontre sua base morfológica, sua realização prático-sensível

(LEFEBVRE 1991, p. 11)

Ascher (2010) entende a atualidade como “era cognitiva”. A evolução e transformação das cidades

da era da industrialização à era cognitiva associa-se a um contexto incerto. As novas configurações

e novos modos de habitar colocam em xeque o urbanismo baseado em trocas e traz o