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1880

1. INTRODUÇÃO

São vários os parâmetros emergentes na discussão de um urbanismo sustentável, entre os quais

está a mobilidade urbana, vinculada à aspectos ambientais, de planejamento urbano, de

transportes, de sociabilidade e mais recentemente de saúde (OLIVEIRA; OLIVEIRA; OLIVEIRA,

2010; KNEIB, 2012). Neste sentido, pesquisadores afirmam que a qualidade de vida é afetada pela

mobilidade nas cidades (CARVALHO et al., 2011; OLIVEIRA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010; KNEIB,

2012; RUBIM; LEITÃO, 2013).

Kneib (2012) define o termo mobilidade sustentável como sendo a relação da capacidade de

deslocamento de pessoas e bens nas cidades, a partir do entendimento de variáveis complexas na

valorização dos modais de transporte coletivos e não motorizados em detrimento do uso de veículos

motorizados. Estes acarretam uma maior poluição do ar (FRUMKIN, 2002) e, de acordo com os

dados do Ministério do Transporte (2013), no Brasil, 68% das emissões nocivas majoritariamente

foram provenientes do transporte individual e 32% do transporte coletivo.

Nesse contexto, a adesão de meios alternativos de deslocamento nas cidades exerce influência

para a diminuição dos impactos ambientais, principalmente em se tratando do caminhar. O tráfego

de pedestres utiliza menos recursos e afeta menos o meio ambiente do que outros modos de

transporte. Deve-se acrescentar ainda que o deslocamento a pé se dá como um modal econômico,

quase silencioso e não poluente (GEHL, 2013; ROGERS; GARDNER; CARLSON, 2013).

Recentemente, essa mobilidade ativa está sendo discutida também como política nas discussões

de saúde pública, considerando que doenças crônicas não transmissíveis, como por exemplo

diabetes, obesidade e hipertensão, as quais representam um problema global (BROWNSON et al.,

2009), estão vinculadas a inatividade física (OMS, 2003) ou sedentarismo. Em 2014, 74% do

número total de mortes do mundo foram causadas por essas doenças (OMS, 2014). De acordo com

Frank et al. (2012), o caminhar, como lazer ou para deslocamento, pode ser inserido em uma

estratégia global para promover a maior prática de atividade física, melhorando assim questões

relacionadas a saúde pública (FRANK et al., 2012).

Pesquisas apontam que a mobilidade ativa pode ser modificada pelo ambiente construído no

incentivo ao deslocamento a pé (SALLIS; BAUMAN; PRATT, 1998; HUMPEL et al., 2002; DING;

GEBEL, 2012), como suporte a uma vida mais ativa (EYRE et al., 2004) e fazer parte do cotidiano

dos indivíduos (GEHL, 2013) por meio da distribuição e qualidade dos destinos para suprir suas

necessidades diárias (FARR, 2013).

Neste sentido, a configuração urbana pode influenciar a escolha do meio de transporte adotado

(FRANK, 2000; HOEHNER et al., 2005), a partir da definição de uma diversidade de rotas

(CERVERO; KOCKELMAN, 1997) e frequência e distância das viagens (HANDY et al., 2002). Para

o entendimento da caminhabilidade, deve-se relacionar altas densidades, uso do solo diversificado,

conectividade, escala humana e qualidades estéticas a espaços orientados para pedestres (HANDY

et al., 2002).

Entre os estudos de mensuração empírica, tem-se os chamados

walkability index

com o objetivo de

sistematizar as variáveis dos aspectos físicos do ambiente construído para a definição de áreas

mais caminháveis (CERVERO; KOCKELMAN, 1997; FRANK et al., 2006; BERKE et al., 2007;

OWEN et al., 2007; LOVASI et al. 2008; SALLIS et al., 2009; FRANK et al., 2010a; FRANK et al.,

2010b; KING et al., 2011; LOTFI; KOOHSARI, 2011; HINO et al., 2012; REIS et al., 2013;

CAUWENBERG et al., 2016).

Esta pesquisa desenvolve o índice de caminhabilidade proposto por Frank et al. (2010a), construído

para a cidade de Cambé-PR a partir da sistematização de quatro variáveis: (1) Densidade

residencial; (2) Densidade comercial; (3) Densidade das intersecções e (4) Diversidade do uso do