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desencadear comportamentos antissociais. A partir da observação de um experimento idealizado
pelo psicólogo Philip Zimbardo da Universidade de Stanford em 1969, perceberam que um carro
abandonado em uma comunidade de classe média alta em Palo Alto, na California, E.U.A., se
manteve intocável por uma semana, até quebrarem uma de suas janelas, quando o carro passou a
ser saqueado e vandalizado. Os autores Wilson e Kelling (1982) destacaram então um importante
aspecto da análise da segurança pública: as pessoas se sentem inseguras de usar o espaço público
mais pelo medo provocado pelo degrado físico e pela desordem social do que pelo medo do crime
propriamente dito. Este sentimento de ser suscetível ao perigo foi identificado por Bauman (2012)
como “medo derivado”, inerente àquela sensação de insegurança que as pessoas assimilam
quando se deparam com os espaços vazios e introspectivos da cidade. Esses aspectos se tornam
então o centro da teoria das janelas quebradas que sustenta que a depredação e atos de
vandalismo podem gerar insegurança e incentivar outras ações antissociais. Este experimento
sugeriu aos autores desta pesquisa uma investigação que se apropriou da teoria para avaliar se o
inverso da mesma poderia promover a organização e a manutenção do lugar, junto à vigilância
como prevenção a ocorrência de delitos menores, criando assim ambientes favoráveis à ocupação
saudável dos espaços urbanos.
Diante da realidade exposta foi possível identificar o seguinte problema de pesquisa: Em que
medida os espaços residuais urbanos, como aquele localizado embaixo da terceira ponte, em Vila
Velha, E.S., pode ter sua ocupação e apropriação qualificada a partir de estímulos externos de
valorização de seu espaço? Utilizando como referência o estudo das janelas quebradas de Wilson
e Kelling (1982), da vitalidade dos espaços de Jacobs (2011), do medo e da insegurança de Bauman
(2009 e 2012), como fatores que passam a controlar a vida urbana na cidade contemporânea, aliado
a pesquisa de Caldeira (2000) que aborda os efeitos do medo e da violência urbana na arquitetura
e no espaço público, e tendo como foco deste estudo a área residual localizada debaixo da terceira
ponte no bairro Praia da Costa em Vila Velha, foi possível conjecturar sobre as seguintes hipóteses
que supostamente explicam a situação atual da área: a configuração do próprio espaço isolado e
desprovido de infraestrutura adequada o torna vulnerável a apropriação informal e à ilegalidade; a
transformação morfológica das edificações do entorno da área que se tornaram introspectivas
reproduzindo características da arquitetura do medo, reforça o medo derivado e o abandono do
local; a consequente sensação de insegurança inibe as pessoas de utilizarem a área na maior parte
do dia; e a própria ausência de um espaço humanizado sugere a ausência de oportunidades para
a socialização das pessoas.
2. OBJETIVO
Para confirmar as suposições apresentadas como respostas ao problema exposto, foi proposto
como objetivo geral, em uma abordagem reversa a teoria das Janelas Quebradas, analisar a reação
e o comportamento das pessoas ao se depararem com intervenções de transformação do ambiente
atualmente fragmentado do baixio da Terceira Ponte, situado na Praia da Costa, em Vila Velha,
E.S. E com o intuito de contribuir com o objetivo posto foram desenvolvidas metas complementares
específicas como: diagnosticar e caracterizar os condicionantes existentes da área quanto ao uso
e ocupação do espaço público e de seu entorno, identificar os atores locais, promover intervenções
urbanas no trecho da área de estudos e registrar a reação e o comportamento das pessoas a partir
das intervenções propostas, com possível melhoria na sustentabilidade ambiental e social na área
pesquisada.