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Figura 8. Melhorias preservadas após
oficinas de intervenção urbana.
Fonte: acervo dos autores (2016).
5. CONCLUSÃO
Ainda que o espaço embaixo da Terceira Ponte inspirasse o abandono e degrado, com poucos
traços de sustentabilidade, as oficinas propostas consolidaram e confirmaram a hipótese inicial de
que a inserção de elementos de humanização em um espaço abandonado e negligenciado pode
sim promover uma transformação que agrega valores de apropriação novos a um lugar. O que
reforça a vontade latente da população de se apropriar dos espaços livres para uso público. Fato
este comprovado e expressado pelos moradores que anseiam por espaços de convívio para festas
religiosas, encontros da terceira idade e de jovens, atividades culturais e comerciais citadas como
resposta ao questionário aplicado após as intervenções. Outro resultado positivo constatado é que
os pilares pintados durante as oficinas de intervenção urbana, não foram “pichados” ou sofreram
atos de vandalismo. O mesmo ocorreu nas edificações no entorno da área debaixo da Terceira
Ponte, onde foram realizadas as oficinas, que até a presente data não apresentaram novos casos
de danos ao patrimônio publico e privado decorrentes das “pichações”, que antes eram frequentes.
Também se percebeu que através da parceria da comunidade civil e acadêmica com os gestores
públicos e privados, as propostas de qualificação e revitalização dos espaços públicos podem ter
resultados satisfatórios para todos. A pesquisa constatou que existe uma carente atuação de
comunidades locais na promoção de atividades conjuntas de apropriação saudáveis de espaços
públicos negligenciados. Apesar de almejarem melhorias e deliberadamente exprimirem críticas ao
descaso do poder público optam pelos mecanismos de controle artificiais como muros altos, cercas
eletrificadas, câmeras de vide monitoramento, e grades que em vez de constituírem defesas contra
o perigo (Bauman, 2009), estão reforçando o perigo por se isolarem na cidade. As reações
expressas nas formas de apropriação que ocorreram a partir das ações propostas durante esta
pesquisa demonstraram que existe vida e desejo de uma cidade mais sustentável, com melhor
qualidade de vida e acesso igualitário aos espaços públicos, em constante conflito com o medo
derivado do cenário urbano, confirmando que a reação do público pode ser proporcional à paisagem
urbana em que está inserido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2009.
BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2012.
BONDARUK, Roberson Luiz. A prevenção do crime através do desenho urbano. Curitiba: Edição
do autor, 2007.