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1. INTRODUÇÃO
Centros urbanos de cidades metropolitanas têm apresentado configurações recorrentes de espaços
ociosos resultantes dos encontros das malhas urbanas. São áreas que apresentam uma ruptura na
continuidade do seu traçado viário, destacado por Lynch (2011) como limites. Tais configurações
são identificadas neste trabalho como fragmentos urbanos por constituírem barreiras, rupturas,
descontinuidades, vazios que têm sido negligenciados nos desenhos urbanos e apropriados por
moradores em situação de rua e confundidos por áreas de descarte com acúmulo indevido de lixo.
Realidade identificada com frequência em áreas de baixios de pontes e viadutos que surgem como
resíduo das áreas de ocupação formais que se adensam em seu entorno, como exemplificado na
figura 01. Situação esta que tem colocado em risco a qualidade de vida da população que reside e
trabalha adjacente a tais áreas e que vem comprometendo a transformação da paisagem local ao
reproduzir a arquitetura do medo nas edificações que fazem limite com estas regiões. São
construções introspectivas que se configuram como enclaves urbanos de uma cidade de muros
(CALDEIRA, 2000) que fragiliza a sustentabilidade local ao desestimular a presença do caminhar
das pessoas, princípio que segundo Jan Gehl (2014) pode contribuir para tornar uma cidade mais
sustentável. Neste contexto, o ambiente torna-se vulnerável a ocorrência de ações antissociais, que
intensificam a condição de degrado e violência urbana fragilizando por consequência a apropriação
saudável do espaço público pela comunidade local, como ocorre na área residual localizada
embaixo da Terceira Ponte, na região da Praia da Costa, do município de Vila Velha, no Espírito
Santo (CUNHA, LYRA e SANTANA, 2016).
Figura 1.
Vista da Terceira Ponte que corta o bairro Praia da Costa, Vila Velha, ES.
Fonte: acervo dos autores (2015).
O referido cenário de insegurança e medo se agrava na medida em que os números de ocorrências
crescem intensificando a evasão das pessoas dos espaços livres da cidade, principalmente fora dos
horários comerciais. O resultado desta combinação vem sendo criticado desde a década de 60, por
autores como Jane Jacobs (2011), Oscar Newman (1972), Clara Cardia (2011) e Jan Gehl (2014)
que atribuem tal realidade à ausência de um desenho urbano atrativo que privilegie a escala
humana para garantir a circulação de pessoas e a presença espontânea da vigilância natural
através do olhar vigilante daqueles que passariam a frequentar os espaços livres de uso público da
cidade, portanto dar oportunidade de uso e circulação às pessoas nos espaços urbanos é também
contribuir em prol da sustentabilidade social, por incentivar a igualdade de acesso por diversos
grupos sociais ao espaço público (GEHL, 2014).