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recuperação do risco de desastres. A autora aponta ainda que existem três pontos principais onde
o conhecimento dos arquitetos relacionado às normas, métodos e procedimentos são importantes
em situações pós-crise:
a) primeiramente, arquitetos experientes são capazes de erguer estruturas seguras a partir da
especialização no cálculo de necessidades, recursos e orçamentos, e isso economiza dinheiro e
melhora a ação humanitária;
b) em segundo lugar, arquitetos incorporam grande representatividade profissional, ou seja, podem
trabalhar em colaboração exclusiva com a comunidade ajudando-os a agir em seu próprio nome.
Além disso, arquitetos têm potencial para assumir papéis nas funções de designer, historiador,
negociador e advogado, situações que demandam alternativas tais como garantir a posse da terra,
oferecer melhor acesso à água, saneamento e luz, introduzir espaços públicos e melhorar o
relacionamento com a ecologia local. Aquilino (ibid., p.9) destaca a extrema dificuldade para a
comunidade representar com êxito seus próprios interesses em um momento de fragilidade e, neste
caso, os arquitetos podem assumir uma representação política buscando o consenso sobre um
projeto que seja viável e articulá-lo junto aos governos locais;
c) finalmente, há o aspecto visionário presente na atividade arquitetural. Situações de recuperação
ambiental demandam mais do que a necessidade de um refúgio. Para além do abrigo, há uma
expectativa para a promoção da saúde pública, da qualidade de vida, a conscientização ambiental
e a ajuda para garantir um modo de vida mais seguro (ibid., p. 9). Estas demandas implicam quase
sempre numa habilidade improvisacional (Rocha, 2015) metodológica e processual orientada a
buscar soluções rápidas, engenhosas e sem precedentes.
Com relação aos projetos emergenciais já elaborados até o momento, há uma lista significativa de
soluções de maior ou menor grau de complexidade, com orientações e abordagens diferenciadas.
De acordo com a pesquisadora portuguesa Rita Frade (2012, p.29) há duas respostas padrão atuais
para a demanda de refúgios e abrigos emergenciais:
a) o fornecimento de tendas de campanha;
b) a utilização de soluções industrializadas e padronizadas.
Segundo ela, em muitos casos, tais soluções geram pouca aceitação por parte das vítimas por não
considerarem as reais necessidades do contexto local que inclui, por exemplo, modos de vida,
hábitos e práticas das populações atingidas. A partir da análise dos projetos realizada pela autora,
é possível pontuar as principais limitações dos projetos existentes como sendo:
a) o elevado preço de produção frente à escassa eficiência econômica no país afetado;
b) a ausência de participação dos sobreviventes na configuração do espaço e adequação às suas
necessidades locais, formas de habitar e valores culturais;
c) a desadequação frente às variações climáticas e ao tamanho das famílias;
d) a exigência de mão-de-obra especializada para montagem;
e) o desconhecimento das normas e princípios de projeto preconizado pelas agências
especializadas (Frade, 2012, p. 37).
Estas limitações tornam-se evidentes em projetos como, por exemplo,
Shelter SES2
, de Pete
Manfield e Tom Corsellis (1998) e
Concrete Canvas
, de Peter Brewin e William Crawford (2004).
Frade critica o formato simplificado destes projetos, configurados a partir do mesmo princípio que
as tendas e cuja aceitação por parte da população é baixa. Diversos projetos analisados não tiveram
a preocupação em se adaptar a realidades diferenciadas e não apresentam adaptabilidade como é
o caso de
Shelter
de Elisa Mansutti e Luca Pavarins (2010). Outro problema recorrente é a exigência
de mão-de-obra especializada para montagem dos projetos, como ocorre na
Red+Housing
concebido por
Obra Architects
(2009). É importante atentar ainda para outros pontos relativos ao
método de projeto, em especial a hierarquia dos valores utilizados, o que quer dizer que a forma