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entre suas especificidades que produzirá efeito ampliado na recuperação dos territórios, das
populações e da biodiversidade. No âmbito da arquitetura entra em cena uma temática
importantíssima: a arquitetura de emergência ou design
emergencial. Compreendê-la e saber lidar
com suas demandas é essencial, tanto para o caso específico de Mariana quanto para uma série
de outros fenômenos de grande impacto ecossistêmico revelados pelo noticiário atual. Não resta
dúvida de que a complexa realidade mundial contemporânea exige especialmente dos arquitetos
um engajamento social e um maior envolvimento com questões humanitárias derivadas de
fenômenos desta natureza.
2. DESIGN EMERGENCIAL: CARACTERÍSTICAS E LIMITAÇÕES
São inúmeras às vezes em que a trajetória histórica do mundo passou por condições ameaçadoras
e requisitou ao ser humano ações emergenciais para sobreviver a tais crises. Deste arranjo de
situações de extrema fragilidade e vulnerabilidade surgiu o design emergencial, uma metodologia
específica de ação encontrada para gerar projetos, planos e soluções como resposta para
calamidades. No Brasil ela encontra-se inclusive regulamentada pela Lei 12.608/2012 .
Existem duas situações principais que demandam respostas emergenciais: a) as catástrofes
naturais que, em casos como o de Mariana, apresentam o ser humano como agente catalisador; b)
as guerras, que abarcam perseguições, conflitos, violência generalizada e violação dos direitos
humanos (LOPES, 2015, p. 21) . Já há um significativo legado de profissionais e organizações
articulados com o design emergencial, ampliando a disponibilidade de materiais, informações,
projetos e ações em resposta às catástrofes e guerras. Eles agem no contra fluxo da grande
corrente de produção de arquitetura e design contemporâneo, atuando com maior responsabilidade
e engajamento social. O design emergencial traz à tona um problema já apontado por Victor
Papanek ainda na década de 1970 e que parece ter sido agravado nos últimos 50 anos: a falta de
engajamento social dos arquitetos e designers. Segundo ele, o arquiteto deveria passar mais tempo
em países subdesenvolvidos elaborando projetos que de fato atendessem às necessidades mais
fundamentais das populações locais, como uma forma de ampliar seu engajamento social e o
próprio significado de seu trabalho (Papanek, 2009, p.33). A visão de Papanek é reforçada pelo
pensamento de outros autores como Ezio Manzini (2014, p.96) que afirma que a baixíssima
qualidade das habitações em países subdesenvolvidos e a precariedade das condições de vida
decorrente destas instalações insalubres constitui o contexto-base para a atividade dos projetistas
atuais e futuros.
Notamos, na atualidade, que os arquitetos vêm, de modo expressivo, se dedicando a trabalhar com
questões relativas à área do design emergencial. Essa expressividade é apontada pela autora Marie
Jeannine Aquilino, em seu livro
Beyond Shelter
(2011, p. 9) onde afirma que os arquitetos são
profissionais treinados, competentes e engenhosos para a prevenção, mitigação, resposta e
Terremoto em Amatrice, Accumuli e Norcia (Itália) em 25/08/16; furacão Matthew (Haiti e EUA) em 09/10/16; É possível considerar
também os desdobramentos das Guerras e a imigração em massa de populações de refugiados de origem principalmente da Líbia para
a Itália e Grécia, através do Mar Mediterrâneo.
LEI Nº 12.608, DE 10 DE ABRIL DE 2012, Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – SINPDEC: “Art. 8º, inciso VIII: Compete aos
Municípios, organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população em situação de desastre, em condições adequadas
de higiene e segurança.”
A I Guerra Mundial alavancou o processo de desenvolvimento do design emergencial e a II Guerra Mundial aumentou ainda mais a
necessidade de abrigos para os refugiados dos conflitos. Após a II Guerra, o planeta atravessou sua mais substancial crise de refugiados.
Em 2015 houve mais de 60 milhões de refugiados, dos quais 59 milhões tiveram que se proteger de conflitos e perseguições. (UNHCR,
2015).
Nomes importantes como Fred Cuny, Ian Davis e Cameron Sinclair tem atuado há décadas nas áreas de pesquisa e arquitetura sobre
o design emergencial. Sobre as organizações cabe destacar:
Architecture for Humanity, Architects Without Frontiers, Architectes de
l’Urgence, Shelter Projects, The Volunteer Architect’s Network, World Shelters e Make it Right
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