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Figura 2 – Fotomontagem de duas faces de quadras do loteamento PAC/Anglo. Ocorrências
constantes de mudança de cor nas fachadas
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Territorialidade saudável x Dispositivos de segurança
A idealização de uma vida comunitária através de uma arquitetura sem barreiras físicas, com
relações estreitas entre vizinhos, senso de
urbanidade
e coletividade, parece ter sido desafiada
diante da sensação de insegurança vivenciada pela exposição excessiva das fachadas. As
unidades que promovem explicitamente ações de proteção e segurança, através da segregação
ostensiva do espaço público-privado, com muros ou grandes altas e ambientes fechados sem
nenhum vão de acesso e controle de entrada, somada à instalação de grades de segurança nas
esquadrias, representam 20% do total de unidades. Percebe-se uma reação à sensação de
insegurança, acompanhada pela promoção de ações para dificultar ou impossibilitar o acesso às
unidades e, ainda inibir a visibilidade ao interior das residências, a partir da rua. Para Bondaruk
(2008), especialista em soluções arquitetônicas para a prevenção do crime, as iniciativas de
proteção que inibem a vigilância natural, isolam os vizinhos, restringem o campo visual, e tornam o
espaço público menos seguro para o pedestre, acarretam o favorecimento da criminalidade e não
a sua inibição.
A concepção de um novo limite territorial no alinhamento do lote, através da construção de muros
baixos, cercas improvisadas ou varandas cobertas abertas, representam 50% das unidades. Para
Bondaruk (2008, p. 150), esse é um retrato da territorialidade saudável, “
construída através de
barreiras simbólicas ou ambientes gerenciáveis, que promovem a transição do espaço privado (de
fácil gerenciamento) para o público (de difícil gerenciamento)
”. Esses espaços devem estar sob o
controle do morador, absorvendo funções privadas ou semiprivadas e permitindo a livre observação
de pedestres e interação entre vizinhos. Nesse contexto, em 50% das unidades, percebe-se o
acréscimo de um novo ambiente residencial com funções complementares no espaço de transição
da rua para a habitação, possibilitando maior liberdade e proteção de crianças pequenas em
recreação, espaços para estar/socializar em ambiente aberto, novos espaços para armazenamento
de objetos pessoais, comercialização de produtos e outras atividades domésticas. As observações
de Alexander (2013) reforçam a relevância das fachadas em alinhamentos frontais à medida que
contribuem para a vida das áreas externas, com terraços e varandas privativas voltadas para a rua,
escadas para sentar, nichos e espaços de transição, bancos externos, muretas para sentar, e outros
padrões.