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Bacha, Strehlau e Romano (2006) dizem que, de todos os estímulos diários que o ser humano sofre,
a memória armazena somente uma parcela e nesse processo, as informações passam pela fase
de exposição, atenção, compreensão, aceitação e retenção, requerendo então tempo para que esse
processo possa acontecer. Tudo isso está associado ao resultado final da análise do usuário e ao
valor que ele dará ao produto, pois, segundo Woodruff (1997), o valor é percebido quando há
satisfação, que decorre do julgamento das características de um produto, comparadas às suas
preferências.
Para captar esses valores, Prahalad e Ramaswamy (2000) falam da co-criação de valor, estratégia
utilizada por empresas para entender as expectativas dos clientes, onde esses participam de
diálogos com as empresas para repassar seu conhecimento pessoal ou coletivo.
1.2 A construção com terra
As técnicas de construção com terra crua, artesanais ou industrializadas vêm se popularizando no
mercado brasileiro dado seu apelo ambiental, entre outras razões, mas ainda têm desafios a serem
vencidos em relação à sua aceitação. Essas técnicas têm suas características peculiares de cor e
rusticidade, e vem sendo alvo de aprimoramentos técnicos e ações de normatização que melhoram
seu desempenho. Porém, no Brasil, uma campanha do Ministério da Saúde e as campanhas
sanitaristas do início do século XX, que desaconselharam o uso de construções de terra, devido à
possibilidade de abrigar o barbeiro, transmissor da Doença de Chagas, criaram um estigma de
habitação rústica, insalubre e pobre. A esse respeito, Ramos e Cunha Jr. (2006) dizem que os erros
desta avaliação foram grandes ao confundir a técnica construtiva com o modo como é construído.
Neves (2006, p.10) realizou uma pesquisa referente ao uso do solo-cimento e após observar a
qualidade de 102 edificações amostrais, concluiu que o solo-cimento oferece propriedades
apropriadas para seu emprego em edificações e pondera “como uma tecnologia comprovadamente
apropriada para empreendimentos de pequeno e médio porte não consegue atingir o mercado
formal da construção, mesmo com uma demanda crescente?”
2 OBJETIVO E MÉTODO
Entre os escassos trabalhos relacionados ao tema, a pesquisa de Benevente e Tramontano, que
em 2000, realizou uma avaliação pós-ocupação de uma unidade experimental de habitação, de
"verificação de impressão ou de aceitação”, buscou introduzir o parecer do usuário potencial no
processo projetual. A pesquisa focalizou a identificação do grau de aceitação dos materiais
empregados na construção de duas unidades habitacionais, por se tratar de usos não convencionais
de materiais tradicionais históricos e concluíram que os entrevistados tiveram dificuldade para
compreender a proposta tecnológica, considerando que muitos materiais não eram aparentes
(dentre eles, a taipa de mão) e somente 2% identificaram o uso da terra crua.
Neste trabalho, o objetivo é identificar a percepção das pessoas sobre a taipa de pilão e quais são
seus requisitos, para que haja satisfação com esse tipo de construção. O público foi chamado a
colaborar via rede social, entrevista a rádio, jornal e TV. A participação não foi espontânea, estando
os participantes cientes de que estavam sendo chamados para contribuir na melhoria de um produto
inovador, não utilizado amplamente pelo mercado. Participaram da pesquisa noventa e seis
pessoas, adultas, que visitaram o protótipo, no campus da UFMS, e receberam informações gerais
(características físicas e processo de construção - fundação, paredes, cobertura, dificuldades
executivas, composição da mistura da terra, falhas nas paredes e motivos, fissuras e reparos,
instalações externas, sistema construtivo misto, outros exemplares construídos – Fig. 1),
solucionaram dúvidas, para então responderem um questionário semiestruturado, baseado em