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Embora as etiquetas de eficiência energética sejam importantes para a quantificação do consumo
direto de energia durante a fase de uso dos edifícios, diversos autores afirmam que a energia
utilizada para produção do edifício, conhecida como incorporada, pode representar parcela
significativa no ciclo de vida das edificações (HEINONEN et al., 2016; RAMESH; PRAKASH;
SHUKLA, 2010; SARTORI; HESTNES, 2007). Além disso, em edificações energeticamente mais
eficientes, a parcela da energia incorporada tende a ser tão importante ou mais que a energia
operacional, por conta dos materiais utilizados para aumento de isolamento ou geração de energia
(CABEZA et al., 2014; DIXIT et al., 2010; HEINONEN et al., 2016; SARTORI; HESTNES, 2007).
Diversos autores desenvolveram pesquisas acerca de Avaliação do Ciclo de Vida Energético
(ACVE) em residências e internacionalmente existem pesquisas desde meados dos anos 1990.
Ortiz-Rodríguez, Castells, Sonnemann (2010) avaliando diversos impactos ambientais em uma
residência no Mediterrâneo europeu e outra no Colômbia, concluem que a etapa operacional pode
englobar de 85 à 95% dos impactos quanto é considerado condicionamento mecânico do ar, para
o caso europeu. Já no caso sul americano, não considerando arrefecimento ou aquecimento, os
impactos da etapa operacional podem cair para até 65%, demonstrando que os impactos
incorporados podem ter importante representação no ciclo de vida das edificações.
Em sentido similar, Hammond e Jones (2008), avaliando a energia e carbono embutido em
edificações, afirmam que existe um típico
trade-off
entre energia incorporada em materiais de
construção e energia operacional. Quanto maior a qualidade de isolamento térmico,
especialmente em climas frios, menor será o uso com métodos ativos de condicionamento ao
longo da fase operacional. Mesmo assim, ainda como afirmam os autores, a partir de um
determinado ponto de energia incorporada, não existem mais diminuições importantes de energia
operacional.
Ramesh, Prakash e Shukla (2010), em revisão sobre o ciclo de vida energético de diversas
edificações em 13 países, demonstraram que edificações autossuficientes em energia podem ter
um consumo total ao maior ou igual à edificações de baixo consumo energético. Nesse resultado
é considerado o ciclo energético incorporado em materiais e equipamentos de geração de
energia. Para estes autores, a energia total anual de edificações residenciais varia em torno de
540-1440 MJ/m
2
.
Houveram algumas pesquisas brasileiras que envolveram ACVE. Tavares (2006) desenvolveu um
metodologia para análises energéticas em edificações residenciais brasileiras, onde apresenta
também um banco de dados sobre energia embutida dos principais materiais de construção
utilizados no Brasil. Paulsen e Sposto (2013) fizeram a ACVE em um estudo de caso de um
edificação térrea unifamiliar de dois dormitórios do PMCMV. Silva (2012) utilizando a metodologia
proposta por Tavares (2006) para a ACVE em edificações de interesse social financiadas pelo
banco Caixa. Embora os resultados totais entre os autores sejam similares, existe grande variação
na distribuição de cada etapa analisada, que são posteriormente descritos no capítulo de
Resultados e discussão.
Além disso, para os autores nacionais citados, o uso de energia elétrica para operação das
edificações ao longo do ciclo de vida foi baseado em estimativas médias de consumo de energia.
Embora essa metodologia não esteja equivocada, ela não considera características intrínsecas
dos materiais para promover a qualidade do ambiente interno. Considerando que houve estimulo
governamental ao maior acesso da população à equipamentos eletrodomésticos
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, inclusive de
condicionamento de ar, é importante que seja também considerada a possiblidade de climatização
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Com por exemplo o Programa Minha Casa Melhor, financiamento disponibilizado pela CAIXA à moradores do
PMCMV.