1999
extensões de muros opacos no perímetro. Cria-se assim um círculo vicioso: os edifícios se isolam
do espaço urbano inóspito e por sua vez o espaço urbano configura-se como um espaço
exclusivamente de passagem.
O município da Serra, localizado na região da Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo, a partir
da década de 2000, passou a abrigar uma porção generosa de lançamentos imobiliários destinados
a habitação multifamiliar, em grande marioria configurados como enclaves fortificados verticalizados
(Figura 1 ). A pesquisa desenvolvida por Santos e Jorge (2016) no período entre 2013 a 2015,
mapeou e avaliou a inserção urbana de 84 empreendimentos habitacionais verticais multifamiliares
implementados após os anos 2000, no município. Destes, mais de 50% foram implementados após
2009, com o lançamento do programa Minha Casa Minha Vida. Os impactos sociais e urbanos
relativos à multiplicação dos enclaves fortificados confere ao espaço urbano características avessas
ao que Gehl (2013, p.6) define como “cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis” pautadas
na preocupação com o pedestre, com os ciclistas, com a vitalidade do espaço urbano e com a
dimensão humana nos processos de planejamento urbano.
Considerando que o atual cenário se repete nas grandes cidades brasileiras pergunta-se: Quais
ações podem ser estabelecidas nos empreendimentos já construídos a fim de minimizar os
impactos sociais e urbanas já adquiridos? Quais ações podem ser implementadas nos planos
diretores municipais que possam impactar positivamente no microplanejamento, incentivando
estratégias positivas relacionadas à vitalidade urbana?
Figura 1
. Empreendimentos habitacionais multifamiliares construídos no Município da Serra, na região da
Grande Vitória após o ano de 2000.
Características comuns aos empreendimentos: Localização periférica, monofuncionalidade, lotes de
grandes dimensões, grandes extensões de muros opacos, repetição e monotonia arquitetônica. Fonte: os
autores
2. OBJETIVO
Esta pesquisa propõe o desenvolvimento de ensaios urbanos de transformação dos limites
estabelecidos em empreendimentos habitacionais multifamiliares configurados como enclaves
fortificados. A partir do estabelecimento de princípios qualitativos para melhor relação entre os
limites do empreendimento e o espaço público contíguo, visa propor soluções viáveis de intervenção
sobre o construído.