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O piso original dessas casas normalmente era feito em pedra, tijoleira de barro ou adobe. No
entanto, em muitos dos casos fora substituído ou revestido de cimento queimado, modificação dada
a partir do século XX, quando o cimento começou a ser utilizado como material construtivo na
região.
Figura 1.
Telhado, Alvenaria e Pisos das Casas de Fazenda
BORGES, 2016
As construções atuais dessa região, no entanto, fogem completamente dos sistemas e técnicas
adotados nesse tipo de arquitetura vernacular. Ao invés de usarem as espessas paredes comuns
na arquitetura do século XIX na região, a grande maioria das residências, que vêm sendo
construídas na atualidade, passou a usar paredes feitas com tijolo cerâmico de 15 cm de espessura,
tanto para as vedações internas como externas, não oferecendo a massa térmica recomendada
para edificações no clima semiárido. O mesmo acontece com as telhas, que mesmo sendo feitas
de cerâmica, têm fabricação atual em moldes menores e mais finos, reduzindo também o potencial
de massa térmica da cobertura. Além disso, as esquadrias adotadas atualmente, normalmente em
alumínio e vidro, oferecem pouca proteção à radiação solar.
4.2 Implantação e Programa
A escolha do lugar de implantação das fazendas de criar não se dava de modo aleatório.
Normalmente buscavam áreas próximas à presença de água potável, tão importante para a
atividade pecuarista. No entanto, em função do baixo potencial sub-superficial da bacia hidrográfica
seridoense, formada em sua maior parte por rios temporários, é comum a presença de açudes e
barragens para garantir o abastecimento de água potável mesmo em períodos de estiagem.
Normalmente esses açudes e as casas de fazenda eram posicionados próximos entre si, e a
orientação da casa é de tal modo que os ventos dominantes passem pelo espelho d’água antes de
chegar ao interior da casa. Outra questão a respeito da implantação é que procuravam o ponto mais
alto do terreno, principalmente por uma questão de controle e segurança.
A arquitetura rural seridoense é marcada por diversos espaços de transição e ambientes com portas
que os conectam a vários outros ambientes. A versatilidade também se faz presente no que diz
respeito à mobília utilizada. Os bancos de madeira e tamboretes (banquinhos de madeira com
assento em couro) podem facilmente ser carregados de um ambiente para o outro, assim como as
cadeiras com estrutura dobrável em madeira e assento em tecido (espreguiçadeiras), que são ainda
mais fáceis de transportar. E, uma vez que se encontram tornos para armar redes em quase todos
os ambientes, qualquer ambiente que funciona como sala de visitas ou de jantar pode transformar-
se em dormitório. Não são todas as casas que possuem alpendre. No entanto, esse espaço que
serve para receber o visitante e viajante também é, em muitos casos, um ambiente de convivência
e prosas entre os moradores e atua como importante elemento de sombreamento para o restante
da edificação.