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esses, as estratégias bioclimáticas adotadas. Por fim, destacamos um exemplar dentre os cinco
para demonstração e discussão dos resultados.
4.1 Materiais e Sistemas Construtivos
Os materiais empregados nas casas são basicamente pedra, barro/cerâmica e madeira (Figura1).
Todos extraídos da própria região e empregados com o mínimo de beneficiamento. O telhado é
geralmente em duas águas do tipo “telha vã”, quando não há forro. As telhas em cerâmica na grande
maioria foram produzidas na própria fazenda, costumam ser bem mais grossas e maiores do que
as fabricadas na atualidade, pesando cerca de 12 kg cada uma. A estrutura do telhado, por sua vez,
é feita com madeira da própria região, conforme descreve Feijó (2002):
São peças de madeiras de diferentes dimensões e seções, que, dispostas em
posições determinadas, desempenham funções distintas. São confeccionadas de
árvores da região, de reconhecida resistência e durabilidade, a exemplo da aroeira,
do angico, da braúna, da craibeira, do brejuí, do pereiro e do gachumbo. (FEIJÓ,
2002, p. 51)
O uso de madeira advinda de árvores nativas do sertão potiguar reitera a adaptação da edificação
às condicionantes locais, como um dos pré-requisitos dessa arquitetura vernacular. O
comportamento higroscópico da madeira é uma das principais características que favorece ao
melhor desempenho do material, pois a durabilidade e resistência são diretamente afetadas quando
há variação de umidade. Sendo da própria região, a madeira não sofre tanto para atingir a umidade
de equilíbrio, evitam-se assim problemas decorrentes de alterações em suas dimensões, que são
resultantes da perda de umidade para que o material atinja equilíbrio com as condições do
ambiente. Além disso, há um elemento que se destaca quando nos referimos à estrutura do telhado,
o brabo
, que surge como uma alternativa para viabilizar a construção dos vãos de grandes
dimensões. Os brabos são peças de madeira com pouco ou nenhum beneficiamento, conforme
descreve Feijó (2002):
Têm, em geral, suas extremidades apoiadas em paredes paralelas, recebendo os
esforços das terças e cumeeira através de pontaletes ou diretamente das mesmas,
em sua parte arqueada, prevalecendo-se do princípio da contra flecha,
aumentando-se assim a resistência da referida peça, como também obtendo um
efeito plástico interessante. Muitas vezes, pela dificuldade de obtenção dessas
madeiras, aplicavam-se peças sem qualquer beneficiamento, e da forma que eram
tiradas das árvores. (FEIJÓ, 2002, p. 52)
A madeira também é utilizada nas esquadrias em geral, estas normalmente confeccionadas em
folhas cegas formadas por fichas de madeira e, em muitos casos, permitem flexibilidade no modo
de abertura, facilitando o controle seletivo da ventilação.
As alvenarias tem caráter autoportante e são feitas de tijolos maciços assentados e rebocados com
argamassa de argila, cal e areia, normalmente eram caiadas na cor branca. Há casos, porém, que
os tijolos permanecem expostos sem qualquer revestimento. As paredes internas tinham essencial
função de vedação/divisão de cômodos, e normalmente medem de 16 cm a 20 cm de espessura,
podendo ser ou não desenvolvidas até a cobertura (parede solteira); já as paredes externas têm
espessuras variando entre 35 cm e 60 cm dada a função estrutural de receber os maiores esforços
da cobertura.
Em geral, o alicerce é feito com pedras graníticas empregadas na sua forma mais natural, em blocos
irregulares, também conhecidas como pedras “marroadas”, abundantes na região.