645
Tais teorias podem ter sido inovadoras para a epoca, mas são cada vez mais pertinentes no mundo
atual.
Porém a existência de uma clara delimitação entre espaço privado (edificações) e espaço público
(vias, parques) não pode ser entedida como um fator único de vitalidade urbana. A vitalidade pode
vir do equilíbrio entre a quantidade de espaço destinado ao uso público e a quantidade destinada
ao privado. Mas também vêm da frequências das vias e sua relação com a dimensão de quarteirões.
Como vemos não é uma métrica simples.
Usualmente encontramos o debate entre as vantagens e desvantagens das cidades compactas
versos as cidades inspiradas na teoria das cidades jardins. Porém, na discussão da densidade ideal
para a sustentabilidade urbana, capaz de dar vida às cidades, dar retorno econômico às
infraestruturas e aos sistemas de mobilidade coletiva, mas garantindo a presença da “verdura”, de
espaços públicos e assim da qualidade de vida dos habitantes; muitos esquecem que a densidade
ideal é um indicador dependente: do período histórico da sociedade, da zona (se central ou
periférica) da cidade e da cultura local.
Acioly e Davidson (1998), trabalhando para o Habitat II no relatório “Building Issues”, demonstram
como a densidade, o tamanho médio dos lotes urbanos, largura de vias e outros elementos
dependem de critérios locais que resultam tanto da história de urbanidade local como do modo de
vida, variando muito de continente à continente.
“Na Europa e na América do Norte os núcleos das cidades têm 25% das terras destinadas às ruas,
enquanto áreas suburbanas têm menos de 15%. Na maioria dos núcleos das cidades do mundo em
desenvolvimento, menos de 15% da terra é destinada para ruas e a situação é ainda pior nos
subúrbios e nos assentamentos informais, onde menos de 10% das terras são destinados a ruas.
Este é um reflexo das enormes desigualdades em muitas cidades do mundo em desenvolvimento”
(UN HABITAT, 2015, p.3).
Jacobs defende ainda que o estímulo e a indução de um maior e mais variado espectro de
diversidade de usos e de pessoas serve como importante base para atividades econômicas e
sociais alimentando o magnetismo urbano pronunciado por Cullen (1983) também nesta mesma
década.
No contexto nacional, Del Rio (1990) contribui com o debate ao lembrar da importância do vínculo
temporal, que relaciona a discussão ao registro no tempo e a carga histórica de cada local e que é
muito importante para esta reflexão.
Percebe-se, assim, que a vitalidade está longe de ser um resultado direto da densidade urbana, da
presença de multiplas funções urbanas. Muitos outros fatores econômicos, sociais, culturais e
também ambientais devem ser considerados antes de qualquer intervenção no espaço urbano
consolidado, pois:
“Intervenções bem fundamentadas são capazes de influenciar positivamente a forma construída
sem comprometer a identidade urbana geral da área. A forma urbana preexistente, os padrões e
culturas de uso local do solo, servem de referência para novas extensões ou transformações
urbanas. A abordagem histórica da paisagem urbana pode servir como ferramenta inovadora em
prol de um planejamento baseado em valores" (UN HABITAT, 2015, p.6).