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esvaziamento urbano foi uma reação evidente. Porém, com o esvaziamento dos centros em direção
à periferia consequentemente um dos elementos que declinaram nos centros urbanos foram os
espaços públicos, os quais, perderam investimentos e sua atratividade. O movimento moderno,
prescrevia a criação de grandes espaços ajardinados sem negligenciar a importância da densidade:
“[...] é indispensável saber que essa mesma forma [casas individuais isoladas]
,
utilizada nas
cidades-jardins de grandes cidades, provocou, pela grande extensão das superfícies ocupadas, a
própria desnaturalização do fenômeno urbano [...]” (LE CORBUSIER, 1984, p. 68).
O autor defende com este argumento, a necessidade da verticalização para introduzir a densidade
na área urbana e preservar as áreas livres públicas nas áreas térreas. Porém, algo não pensado
por Le Corbusier e tantos outros urbanistas desta época, é que a escala dos espaços livres é
importante tanto quanto sua densidade.
Com o fracasso das utopias de planejamento urbano deste período, críticas foram levantadas sobre
a vitalidade das cidades, por diversos autores como Jane Jacobs, Jan Gehl e Kevin Lynch, que
ganharam destaque por suas estreitas observações do cotidiano das cidades, visando
compreender as paisagens e fatores essenciais para a vida urbana. Jacobs (2001) e Gehl (2011)
chamam atenção para que, praças e parques tenham densidades suficientemente capazes de
alimentá-los:
“Mais Áreas Livres para quê? Para facilitar assaltos? Para haver mais vazios entre os prédios? Ou
para as pessoas comuns usarem e usufruírem? [...]Os parques de bairro bem-sucedidos raramente
têm a concorrência de outras áreas livres. Isso é compreensível, pois as pessoas da cidade, com
seus interesses e deveres, dificilmente conseguem dar vida a uma quantidade ilimitada de parques
locais de uso genérico”
” (
JACOBS, 2001, s/p)
“Pessoas e atividades podem ser reunidas através da localização de edificações e usos do solo de
forma que o sistema de espaços públicos seja tão compacto quanto possível e de maneira que as
distâncias para o tráfego de pedestres e as experiências sensoriais sejam tão curtas quando
possível
” (
GEHL, 2011, p.85).
É possível perceber a sintonia entre os parques urbanos e a vitalidade urbana. Embora o conceito
de vitalidade seja complexo e multifacetado e envolva padrões sociais, espaciais e econômicos, ele
pode ser resumido na vida presente nas ruas, parques, passeios, espaços públicos abertos e que
proporcionam trocas comerciais. Esta vitalidade é visívelmente identificada em espaços densos e
frequentáveis, pela interação entre as pessoas, ou entre pessoas e a paisagem.
Além destes fatores, a impessoalidade moderna esvaziou as ruas, que viraram locais de passagem,
apenas como suporte ao deslocamento entre casa e trabalho, alargando e interiorizando a vida
privada. Os espaços públicos acabaram perdendo toda sua significação social.
As teorias lançadas por Jacobs na década de 60 (2001), são ainda aplicáveis quando se busca
resgatar pré-existências da cidade multifuncional, compacta e densa onde a rua, o bairro e a
comunidade são vitais na cultura urbana. Para a autora, “manter a segurança da cidade é tarefa
principal das ruas e das calçadas” (JACOBS, 2001,s/p); Assim como é clara a delimitação entre
público e privado, função da rua, além de proporcionar espaços de convidência e trocas comerciais.