155
conferindo maior elasticidade ao mercado brasileiro e impulsionando a demanda por diferentes
tipologias de unidades habitacionais em todo o país (CORDEIRO FILHO, 2008).
Sendo assim, a Avaliação Pós-Ocupação (APO) constitui ferramenta fundamental para se avaliar
a qualidade da produção habitacional brasileira. A relevância da APO para a obtenção da
qualidade do projeto de arquitetura já é bastante consolidada por diversas pesquisas na área da
construção civil (VOORDT; WEGEN, 2013; VILLA; ORNSTEIN, 2013). O papel da gestão do
processo de projeto, na qual a APO se insere, quanto ao atendimento à qualidade dos espaços
construídos, notadamente nas habitações, também já foram amplamente pesquisados
(KOWALTOWSKI et al., 2013). Dessa forma, evidencia-se a relação existente entre a aferição do
comportamento humano no espaço doméstico e a qualidade habitacional como forma de elevar os
índices de satisfação e melhoria do desempenho dos projetos idealizados nessa área.
Por outro lado, apesar do esforço no sentido de fundamentar a qualidade da habitação, observa-
se que muitos estudos são limitados, na medida em que os trabalhos comumente focalizam certos
aspectos que configuram a qualidade da habitação: sociais e comportamentais, ou econômicos e
políticos, ou ambientais e patológicos, ou ainda os antropométricos dos projetos arquitetônicos. É
o caso das pesquisas que enfocam os sistemas relacionados ao conforto ambiental e à eficiência
energética das unidades habitacionais, os quais, inicialmente, centraram-se em definir parâmetros
de desempenho para esses sistemas, ao passo que os estudos mais recentes começaram a
indicar a necessidade de se rever os parâmetros de avaliação inicialmente propostos.
Na Holanda, por exemplo, verificou-se que tecnologias mais eficientes, em geral, reduzem os
preços dos serviços de energia, encorajando a mudança de comportamento dos usuários, que
aumentam seu consumo energético (VISSCHER; WERF; VOORDT, 2013). Já no Reino Unido,
segundo Stevenson (2013), o problema centra-se na ausência de estudos mais concisos quanto à
usabilidade de tecnologias de baixo teor de carbono. Assim, quando essas tecnologias não
atendem à finalidade pretendida – apresentando defeitos de instalação e de operação – gera-se
uma potencial reação negativa à sua adoção por parte dos moradores. Portanto, percebeu-se que
as medidas ambientais devem ser relacionadas com o cotidiano dos usuários e com suas
expectativas (em termos de custo, conforto e segurança).
Desse modo, a pesquisa em curso reforça a necessidade de se identificar o papel dos moradores
na redução dos impactos ambientais, analisando-se seus hábitos e ações. Visa também contribuir
para a discussão atual sobre o modo de habitar num momento oportuno, dada à quantidade de
empreendimentos habitacionais diariamente lançados. Por outro lado, a necessidade de sempre
lançar empreendimentos, em um curto prazo, geralmente restringe as etapas de projeto – o que
faz com que o mesmo seja reproduzido em vários locais, indiscriminadamente (VILLA;
SARAMAGO; GARCIA, 2015). Desta forma, torna-se necessário refletir sobre a qualidade de tal
produção, verificando o quanto atende: às especificações técnicas de materiais e sistemas
construtivos que possam garantir o conforto das unidades residenciais; aos modos de morar de
diferentes perfis familiares, sociais e culturais – que influenciam suas ações sobre o meio
ambiente; e aos impactos urbanos gerados pela implantação das habitações.
2. OBJETIVO
A pesquisa geral objetiva desenvolver um sistema interativo de avaliação pós-ocupação (APO) em
meios digitais, que permita identificar a qualidade das habitações investigadas e cuja viabilidade,
testada em estudos de caso na cidade de Uberlândia (MG), possa fundamentar sua replicação
futura em território nacional. A metodologia de APO em meio digital tem o intuito de abordar
aspectos funcionais, comportamentais e ambientais das habitações e será organizada em etapas
que partem das informações pessoais dos moradores até a avaliação propriamente dita da