1533
1. INTRODUÇÃO
O crescimento da população e a busca pelo desenvolvimento econômico trazem consigo o
aumento do consumo de recursos naturais com proporções importantes. A intervenção desenfreada
do homem na natureza vem modificando as condições do meio ambiente e produzindo cada vez
mais resíduos. Diante dessa problemática, surge a necessidade de analisar alternativas para a
utilização destes resíduos que estão se acumulando e gerando desequilíbrio ambiental.
O litoral norte do estado de Pernambuco também possui importância para a maricultura
extrativista, especialmente no Canal de Santa Cruz, uma vasta área de manguezais que cobre cerca
de 1220 ha e separa a Ilha de Itamaracá do continente. As águas marinhas dessa região possuem
condições favoráveis ao cultivo de moluscos, devido à elevada carga de matéria orgânica em
suspensão, por ser próximo a manguezais, e facilidades geológicas da região. A pesca do marisco
Anomalocardia brasiliana é uma atividade tradicional no litoral norte de Pernambuco, onde diversas
famílias realizam uma atividade de subsistência expressa pela extração artesanal deste molusco
ao longo da costa, sobretudo nos municípios de Goiana, Igarassu e Itapissuma, onde, no ano de
2006, foram registrados 17,7% da captura de pescado no Estado, dentre os quais se destacam os
mariscos com 2.475,3 t (CEPENE, 2008).
Este bivalve está amplamente distribuído ao longo de toda a costa brasileira, habitando
áreas protegidas da ação de ondas e de correntes, ocorre tanto na faixa entremarés como no infra
litoral raso em substrato lodoso ou areno-lodoso (RODRIGUES et al., 2010). Anomalocardia
brasiliana, por ser uma espécie eurialina e euritérmica, pode ser considerada uma espécie rústica,
possuindo ampla distribuição geográfica (ARAÚJO; NUNES, 2006; LIMA et al., 2009). A pesca do
marisco, devido ao seu beneficiamento, que consiste em aquecer o produto em um recipiente e em
seguida bater em uma peneira para facilitar o descasque, produz resíduos que causam grandes
impactos ambientais, tais como: poluição visual, assoreamento de rios e mangues, odores
desagradáveis e problemas de higiene e saúde pela falta de controle sanitário (EL-DEIR, 2009). De
toda a quantidade de marisco produzida, apenas 20% é consumida na forma alimentar, sendo 80%
constituída de casca, e esta é composta por 95% de carbonato de cálcio, o restante é matéria
orgânica e outros compostos (EPAGRI, 2007).
A origem calcária decorrente da sua formação lhe proporciona um comportamento hidráulico
e mecânico potencialmente interessante para uso como componente de compósitos cimentícios, o
que motivou a realização do presente estudo experimental, em laboratório. O trabalho contemplou
a substituição parcial do agregado natural por resíduos das conchas em argamassas de contrapiso
e em concretos não estruturais.
2. METODOLOGIA
2.1 Lavagem das conchas
Após a coleta, as conchas passaram por um processo inicial de secagem e lavagem simples,
ficando exposta por um período mínimo de seis meses à ação de intempéries (sol e chuva).
Concluída essa etapa, as conchas foram submetidas a outro processo de lavagem, no qual as
quantidades utilizadas na dosagem foram colocadas em uma betoneira por partes (Figura 1),
submetidas a ciclos de lavagens com água potável, com duração de 25 minutos cada, para remoção
de impurezas. Ao término do 4º ciclo percebeu-se que a água, após a lavagem, possuía a coloração
clara, semelhante àquela inicialmente inserida, indicando a conclusão do processo de lavagem