96 O espelho quebrado da branquidade Autores como McLaren (2000) contribuíram para o aprofundamento da visão e o método prático e dialógico de Freire, e auxilia para um entendimento melhor elaborado em relação a sua prática pedagógica. Muitas vezes se ouve dizer que tudo isto é do passado. Que tais tratamentos mudaram... Infelizmente, na prática do nosso dia a dia, isto parece não ser tão evidente. Já tivemos oportunidade de presenciar muitas situações de crianças negras que vivem no mundo escolar atualmente, inclusive nas proximidades de nosso trabalho. Citamos aqui um deles. Um dia, recebemos o convite para evidenciar fatos acontecidos, em uma Escola Estadual, com um menino de 12 anos e com uma menina de 13 anos, ambos afrodescendentes. Inclusive, nessa escola, a diretora foi afastada, depois, por negligência racial relacionada às duas crianças. O menino passou a sofrer duras situações de opressões psicológicas, por ser um menino hiperativo e negro, depois de não suportar mais o racismo visível. O menino passou a ter “surto psicológico” e, ao realizar a aproximação, percebemos que toda família vivia em situação de exclusão e racismo. Na sequência desta nossa participação, toda família passou a frequentar o espaço de reflexão que temos na universidade e analisar muitas situações das quais não podiam falar e nem entender. Percebemos total exclusão e isolamento. Num depoimento, uma conselheira tutelar diz: Esta Escola já vem cometendo abusos e racismos há muito tempo, essas crianças devem ser encaminhadas para outra escola. Outros casos parecidos já aconteceram até mesmo com meninas profissionais da noite, que a escola não aceitou e oprimiu essas garotas. Nós tivemos que encaminhá-las para outras escolas. (depoimento da conselheira tutelar Lori, registrado em 13 de abril de 2008). Este registro nos possibilita uma visão mais profunda das complexidades e, ao mesmo tempo, apresenta novos dados e conhecimentos para analisarmos os acontecimentos e os procedi-
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