62 O espelho quebrado da branquidade As provocações teóricas de Florestan Fernandes, visando à fomentação de uma sociologia crítica, nos alargam a percepção de um caminho pedregoso e cheio de minas ameaçadoras com visões e metodologias sociológicas ainda cristalizadas e enrijecidas, cultivadas por muitos cientistas sociais nas academias brasileiras. Os estudos deste autor, bem como de todos os que se alinham e reforçam suas posições, entre eles destacamos especialmente, também, Kabengele Munanga, apesar de pouco visíveis e até, às vezes, incompreensivelmente silenciados ou ausentes nos contextos acadêmicos de nosso conhecimento, nos provocaram e convocaram para dar continuidade neste alargamento científico, voltado para resgatar os teores críticos fomentados e embasados nas obras de cunho político e científico e de uma teoria voltada à sociedade e ao sujeito cultural dentro da sua “real realidade”. Sociologias de caráter universalista pretendendo equivocadamente abranger a diversidade das sociedades num sistema unificador de categorias uniformes e gerais, a nosso ver, são abstratas, vazias e reforçam ideologias dominantes. O pensamento sociológico de Florestan Fernandes, no nosso modo de ver, tem raízes inteiramente diversas, focado na busca do entendimento do processo brasileiro. Houve momentos de tensão na trajetória e nas interpretações sobre o caráter militante de Florestan Fernandes. No entanto, são tensões nas quais se podem visualizar certos preconceitos e discriminações presentes no meio acadêmico e nas práticas acadêmicas em geral, como bem revela uma reflexão registrada por Martins: O Professor Florestan escreveu em função de solicitações das circunstâncias da vida acadêmica. Ele foi sempre, até o fim, um acadêmico, um excelente acadêmico; mesmo quando mergulhou na política partidária e na ação política como publicista e deputado federal, foi como um acadêmico que fez política. A coleção de biografias de amigos
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