O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 61 possam ser verdadeiramente incluídos ou, melhor, reconhecidos, no processo social brasileiro. Neste sentido, afirma Fernandes (1972, p. 17): “[a] democracia racial não impõe a participação como um desafio passivo: para participar, o negro e o mulato precisarão dar de si mesmo o que eles possuem de mais criador e produtivo”. Dentro de nossos estudos, a postura crítica e ética fernandesiana não poderá, a nosso ver, ser ignorada, pelo contrário deve ser posta como referência central. 2.1.1 Um espelho de cientista militante A opção pela perspectiva fernandesiana se deu através dos estudos e das leituras mais aprofundadas e realizadas em torno da biografia do autor e principalmente pela sua teoria sociológica crítica. Percebemos o seu comprometimento com a pesquisa e amplos estudos relacionados a uma sociologia que contempla não apenas as relações raciais, mas também apresenta vasta reflexão questionadora e concreta da realidade social provocando, de alguma forma, os cientistas sociais, fechados nas vinhetas científicas viciadas produzidas e reproduzidas nas academias. Conhecendo mais o autor, cresceu em nós a perplexidade frente ao silêncio e invisibilidade da presença e indicações de bibliografias e leituras relacionadas a ele dentro do contexto acadêmico. Toda postura e ambivalência centrada nessa dinâmica, militante e científica deste autor, nos levou a ampliar as leituras de suas obras e comentários sobre as suas teorias e seu jeito de ser, colocando neste espelho as inquietações e buscas teóricas com relação às relações sociais e raciais brasileiras. Nesta busca nos deparamos também com o sociólogo Octavio Ianni, que fez parte deste cenário fernandesiano. Este autor (Ianni, 2009), alinhado com Florestan Fernandes, ao refletir sobre a condição racial e a desigualdade econômica, sofridas pelos negros, chama a atenção para o “lugar do negro” na sociedade capitalista, retomando a sua tese na qual articula os dois eixos para ele indissociáveis: a condição e preconceito de classe e a discriminação e o preconceito de raça.

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