O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 49 da sociedade branca brasileira sente necessidade de cultivar ideias, valores e normas que preservem os interesses da mesma sociedade branca. A ideologia dominante segundo Follmann (1985, p. 26) ajudará, sempre, a “acobertar e escamotear as contradições”. No caso presente, ao falarmos em ideologia, portanto, estamos falando do esforço por acobertar e escamotear os conflitos raciais. Estamos em uma sociedade branca de dissimulação, ou seja, uma “branquidade”, como veremos no capítulo terceiro. A ideologia dominante, quando impregna profundamente todo o tecido social, ou seja, todas as mentes e corações, dentro do conceito de Antonio Gramsci, passa a exercer a função de hegemonia. Segundo Follmann (1981), sempre quando uma ideologia dominante consegue tomar conta da vida da sociedade como um todo, tanto menos aparecerão os conflitos e menos necessidade haverá de uso da violência. As mentes e os corações então assumem os valores dominantes como o melhor caminho a ser seguido. A sociedade brasileira é uma sociedade onde impera a hegemonia branca. A história mostra-nos, através do racismo, do preconceito e da indiferença face aos diferentes, a facilidade com que se silencia e vai se desumanizando o “diferente” ou “inferior” sem que haja uma percepção dos mesmos e de maneira o alargamento da desresponsabilidade da hegemonia branca. Mesmo com a presença visível do sujeito diferente, a hegemonia branca tende sempre a acreditar que este não é sujeito moral como “eles”, e assim toda crueldade pode ser cometida. A violência a que o negro no Brasil sempre esteve submetido não é apenas a da força bruta. O poder que se centra no “sujeito branco” se apresenta também de forma simbólica sendo exercido, antes de tudo, pela impiedosa tendência a destruir a identidade do sujeito negro. Talvez seja essa a causa que levou a maioria da população negra a rejeitar a sua negritude. O olhar sobre a população negra nos termos da literatura e as relações raciais no Brasil, com o surgimento da lei 10639/2003, tornam-se de suma importância.

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