O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

122 O espelho quebrado da branquidade A ideia que nos vem nessa reflexão é que, se o próprio branco parece temer o fracasso ao descobrir as ilusões infiltradas simbolicamente nesse contexto de sua cultura da branquidade, talvez ele próprio possa cair no desencanto de suas ilusões e de suas internalizações de poderes sempre ameaçados. Eis aí a necessidade de garantir a manutenção de muletas, ou melhor, garantir essa inferioridade do negro para que ele possa continuar o fortalecimento de sua posição de dominador, sendo visto como pertencente a uma única cultura produtora e reprodutora desse poder de dominação. Talvez esteja ai a importância que Vron Ware apresenta em sua coletânea aqui estudada. Para a autora, trata-se de “uma tentativa de mostrar o que aconteceu quando o poder simbólico da branquidade é exposto ao exame rigoroso de acadêmicos e ativistas que trabalham em diferentes contextos nacionais” (WARE, 2004, p. 8). Diante disso, podemos levantar, nesta discussão, a situação e o poder do conceito de “sutileza” e o conceito do termo “velado”. A nosso ver, quando o sujeito branco não consegue analisar o significado do que é ser sutil, ele acaba aplicando e usando este termo como se fosse algo normal e que um sujeito negro não percebe. O uso deste termo está presente e muito implicado neste cotidiano em que vivemos. Para o afrodescendente, não há como se organizar e unificar as ideias hegemônicas, por estar completamente amordaçado e mobilizado pelo discurso e o poder invisivelmente vigiado e controlado pelos brancos. No meio afrodescendente, percebem- -se que as forças hegemônicas não se fortalecem na medida em que a estratégia da branquidade vai se criando e recriando em função das fragmentações e mutilações da identidade e dos sujeitos da cultura negra. Dizemos isso, não apenas enquanto teoria, mas as razões empíricas e as experiências vividas nessa realidade para o sujeito negro é muito mais do que um desgaste psíquico, pode-se dizer que se chega a uma “resiliência sub-humana”. Isso também pode estar ocorrendo e afetando o psíquico do branco que parece sofrer quando se depara com o desvelamento dessa realidade, mas que continua na indiferença.

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