Adevanir Aparecida Pinheiro 121 existentes nesse sentido. Segundo Ware (2004, p. 12), “[a] branquitude precisa ser entendida como um sistema global interligado, com diferentes inflexões e implicações, dependendo de onde e quando ela é produzida”. Na “real realidade”, não sabemos ao certo quais os aspectos que tornam um sujeito de identidade branca, “um branco”? Foi o que nos levou a estabelecer a distinção, para fins puramente didáticos, entre branquitude e branquidade. As manifestações por vezes delicadas e repletas de inseguranças em torno de um diálogo mais aberto se apresentam de maneira nervosa, e o diálogo sutilmente é desviado para outra temática ou outros eixos repentinos. Muitas interrogações aos poucos surgem. Muitas vezes sem respostas, seja no mundo acadêmico, seja nas escolas e em projetos sociais. O que fortalece o poder de um sujeito branco? Quais os medos e inseguranças que provocam tanto silêncio no sujeito que se diz “branco”? Como se poderia quebrar o silêncio e possibilitar um diálogo aberto e seguro a respeito dos conceitos envolvidos no “ser branco”, no mundo acadêmico, nas escolas e nos projetos sociais objetivando perceber até que ponto esses conceitos são relevantes ou pejorativos na vida destes sujeitos? Como se sentem ao serem tratados como racistas, superiores, dominantes, excludentes, filhos de senhores de ex-escravos, senhores de engenhos, entre outros denominadores silenciados no consciente e no inconsciente destes sujeitos vistos como “brancos”? Em geral, a reação será: mas eu nunca escravizei ninguém. Nem eu nem meus antepassados! Na realidade, ou na “real realidade”, para quem sempre viveu em meio a esta complexidade internalizada de inferioridades, submissão e medos na sociedade brasileira como os afrodescendentes, percebem a visibilidade dos conflitos, mesmo por intermédio das atitudes simbólicas deste “branco”. A internalização de que falamos aqui foi uma forma imposta também para este branco que enfrenta a radicalidade da cegueira frente ao seu jeito de ser “racista”, superior e dominante deste “negro”.
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