O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

12 O espelho quebrado da branquidade As leituras que ela faz são leituras profundamente criativas, onde ela de certa forma “incorpora” as dimensões espirituais militantes das/os autoras/es captando em sua análise aspectos que às vezes permanecem nas entrelinhas dos escritos. As suas análises das/os autoras/es são um esforço de atualização, proporcionando a quem lê, a sensação de uma interlocução pessoal sem a mediação do texto escrito. Durante o seu processo de pesquisa para a tese doutoral não sossegou enquanto não localizasse os escritos de um filósofo que fosse africano e que ajudasse a iluminar as suas ideias a partir de uma percepção e leitura mais genuinamente africana. Teve êxito e com ardor se apropriou de alguns escritos fundamentais de Kwame Anthony Appiah. Satisfeita com este tento, lamentou, no entanto, não ter tido oportunidade suficiente para se libertar da demasiada carga de autores brancos e masculinos e foi visível o seu anseio por trazer para a reflexão as contribuições de pesquisadores negros e, sobretudo, de intelectuais mulheres negras, duas das quais, Petronilha Beatriz Gonçalves da Silva e Maria Aparecida Silva Bento, estiveram na banca de sua tese. O privilégio que eu percebo, em minha participação através deste prefácio, é o de poder fazer parte de um grande momento na história social de nosso país, protagonizado pelas decididas políticas de ação afirmativa, expressas, sobretudo, nas leis 10639/2003 e 11645/2008, com a pauta da Educação das Relações Étnico-raciais. Tenho a firme crença de que, depois deste momento, a nossa sociedade não será mais a mesma, ou melhor, restabelecerá as suas autênticas raízes de uma sociedade pluri-étnico-racial de verdade e não de mentirinha como vem sendo até os nossos dias. É um privilégio poder, também, ser protagonista deste momento, no qual o “espelho da branquidade” é definitivamente quebrado. O desafio está na permanência fiel e criativa nesta luta, cujo protagonismo central não pode ser senão dos mesmos afrodescendentes. O desafio está em não fugir de algo que muitas vezes é árduo, árido e, por que não, muito controverso, em nossa

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