O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 111 A nosso ver, todas essas informações são produzidas no seio de uma ciência conduzida sutilmente nas academias brasileiras. Isso talvez no decorrer da história da educação foi confundindo a visão dos sujeitos brancos e negros. Porém, esta confusão, seja de cunho racista ou de confusão identitária, foi levando os sujeitos a se sujeitar à supervalorização idealizada da dominação da população branca sobre a população negra. Talvez isso também contribua para excluir grande parte dos sujeitos afrodescendentes que muitas vezes não se vê pertencente nem a sua identidade histórica, seja cultural ou religiosa. De ambas as formas sendo tratados como pagãos ou portadores de uma religiosidade representada como “coisa diabolizada”. A estatística de negros presentes nas religiões pentecostais demonstra ser um sinal muito visível disso. Aliás, se formos mais fundo em nossas buscas, veremos que a problemática da branquidade veio sendo fruto de um processo arquitetônico intelectual que remonta aos textos sagrados. Um processo discutido, sobretudo em termos bíblicos.39 Toda discussão sobre o conceito de raça foi em função de inferiorização e desvalorização centrada na cultura africana e indígena. A ideia de raça no mundo Atlântico por Poliakov (séc. XV/XVI) diz que: a fantasia dos autores tinha livre curso, e as variações propostas eram inumeráveis, mas a tendência dominante, de acordo, aliás, com as sugestões etimológicas já contidas na Bíblia40, era a de reservar a Europa aos filhos 39 “A Espanha foi o lugar principal do debate (a respeito da natureza dos indígenas da América) que opunha a antropologia cristã a uma antropologia inspirada nos Antigos. Para os humanistas imbuídos de Aristóteles, como João Sepúlveda, os índios eram bárbaros; logo, de acordo com a doutrina do mestre, nascidos para serem escravos; para o dominicano Bartolomeu de Las Casas, faziam parte da posteridade de Adão, e portanto deviam ser evangelizados e tratados como homens livres”. (POLIAKOV, 1974, p. 109) 40 POLIAKOV, Léon. O mito ariano: ensaio sobre as fontes do racismo e dos nacionalismos. São Paulo: Perspectiva, 1974.

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