O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 109 branqueamento, simbolicamente no âmbito da predominância econômica, política e uma cultura centrada na dimensão religiosa e da crença católica também ordenada pela branquidade. Isto, inclusive se estendeu até depois do processo abolicionista, quando os ex-escravos adotados de certa forma na casa de senhores, eram batizados e herdavam o sobrenome do senhor por não se saber mais de seus vínculos e nem o sobrenome de sua família. Para ilustrar esses acontecimentos, citamos o depoimento de uma família afrodescendente residentes na região norte do Paraná no Vale do Ivaí. Assim comenta uma senhora conhecida por Dona Maria Bondosa: Olha, nosso sobrenome veio do lado da família do pai do meu esposo. Ele andava perdido no mundo lá em Minas Gerais. Então o senhor fazendeiro o pegou para criar e como ele era muito bom, não tinha família nem parente conhecidos, então ele foi apelidado como “João Bondoso” e assim ele ficou conhecido, depois casou e teve filhos e eu acabei casando com um dos filhos dele que é o “José Bondoso Rosa de Araújo” que é o sobrenome da mãe dele. O Zé bondoso faleceu recentemente com 98 anos e foi o primeiro professor negro na Região de Maringá e Cambira. O pai dele foi alfabetizador dos filhos dos senhores, mas não podia alfabetizar seus próprios filhos. Ele ensinava os filhos a lerem escondido do senhor (Depoimento colhido no dia 16 de fevereiro de 2008). Os escravos não podiam ter a sua família ou o seu agrupamento identitário. Mesmo diante de sua ação espiritual, apenas viviam da lembrança de seus antepassados longínquos e muito distantes. Isso dificultava até mesmo a sua ação singular e comunitária. Deles foi roubado o seu modo de ver Deus nas divinda-

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