O espelho quebrado da branquidade: aspectos de um debate intelectual, acadêmico e militante

Adevanir Aparecida Pinheiro 105 vez que não se assenta numa única realidade, que, por sua vez, é também arbitrária. Na ideia presente no livro de Francisco José de Oliveira Vianna “Evolução do povo brasileiro”, lemos que. De todas as raças humanas, são as indo-europeias as que acusam um coeficiente mais elevado de eugenismo. Logo, só estas nos servem, porque o progresso das sociedades e a sua riqueza e cultura são criação de seus elementos eugênicos, cuja função na economia social é análoga à função do oxigênio na economia animal. (VIANA, 1956, p 46) Assim, o sistema simbólico de uma determinada cultura é uma construção social e sua manutenção é fundamental para a perpetuação de uma determinada sociedade, a partir de suas frações de classes, através da interiorização da cultura por todos os seus membros. Para Bourdieu (2004, p. 106), “[a] violência simbólica, cuja realização por excelência certamente é o direito, é uma violência que se exerce, se assim podemos dizer, segundo as formas, dando forma”.37 Nuttal (2004), ao discutir o contexto da violência simbólica no campo da simbologia cultural, se assemelha com o pensamento de Bourdieu, quando aprofunda o campo da violência simbólica sorrateiramente infiltrada no cotidiano da cultura branca. Essa violência simbólica parece ocultar e manter sob sua magnitude inúmeras formas de comportamento velado, repleto de racialidades, estigmatizações e gestos preconceituosos que provocam situações de fugas e exclusão dos diferentes sujeitos. Para nós, o adjetivo “velado”, é um termo que não esconde apenas as problemáticas de racismo, mas demonstra que neste subterrâneo ou nesses porões se vela muito mais uma estratégia de 37 BOURDIEU, P. Violência Simbólica e Lutas Políticas. In: Meditações Pascalianas. Bertrand Brasil, 2001, p. 199-233.

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