Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização
Quando os olhos não piscam nem param: da imagem-operação à ascensão ao fluxo 205 lulares. Há muitas imagens nos rondando, mas será que muitas perspectivas? Ou tais imagens só nos levam para a não visão? As provocações são importantes quando a convergência midiá- tica e a proliferação dos aparatos são consideradas revolucio- nárias. Certamente, estamos diante de novas formas de con- tato possibilitadas pela oferta, mas não necessariamente de apropriações 2 efetivas. Neste sentido, Verón (1997, p. 14-15) já destacava que “as condições de acesso às mensagens e as con- dições de acesso ao sentido são duas problemáticas totalmente distintas. A primeira remete ao funcionamento de regras eco- nômicas explícitas [...] Já a segunda corresponde a uma análise em reconhecimento”. O autor reforça que não basta compreender a produ- ção midiática, mas é preciso também atentar para o modo de lidar e, portanto, reconhecer o que os indivíduos fazem com o produzido. Transpondo para nossa discussão das imagens, isso significa que já não podemos entender o acesso às câmeras e aos celulares como uma via única entre a produção ancorada em lógicas de mercado e a multiplicidade de ângulos de visão sobre uma questão ou fato. E tampouco pensar que o indivíduo não desenvolve táticas que escapam das lógicas da produção, já que este também produz na medida em que ascende aos meios. Mario Carlón (2012) vem estudando exatamente este processo de ascendência e descendência dos atores sociais, com suas ló- gicas amadoras, aos meios. Em nossa ótica, a insuficiência do acesso como solução para as assimetrias sociais reside, exatamente, no fato de que os sentidos não estão na tecnologia; eles são frutos da produção humana, do seu processo mental, do acionamento de seu imagi- nário. Assim, todo acesso resulta em diferenças, como salienta Fausto Neto (2016), que alerta para “uma assimetria estrutural”. Obviamente, porém, esta assimetria é da ordem do sentido, mas não necessariamente de acesso, já que atualmente instituições midiáticas e atores sociais se contatam e se hibridizam em suas práticas discursivas. Tais contatos são evidenciados na produ- 2 Entendemos apropriação a partir de Proulx (2014) como o ato que subverte a ló - gica do aparato. Tal fazer ultrapassa o uso do objeto técnico. Este torna-se insu- mo para outros fazeres bemmais complexos e que implicam literacidade quanto às lógicas dos meios, aos aparatos em si e ao entendimento de comunicação.
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