Redes, sociedade e pólis: recortes epistemológicos na midiatização
Prefácio 17 camente com os mesmos artefatos culturais de comunicação, mas diacronicamente as trajetórias de sua vida geracional lidaram com artefatos diferentes, por meio de diversas experiências cultu - rais e vivenciando diferentes significados sociais. A própria ideia de geração, de algum modo, se prende à ideia de autoconsciência mediática, isto é, de autoconsciência dos meios de comunicação que estiveram presentes em suas vidas em diferentes fases desta e dos usos sociais que deles se fazia. Por sua vez, Muniz Sodré, o decano dos pesquisadores em comunicação no Brasil, traz um ensaio sobre venturas e des- venturas da função mediadora do jornalismo ao longo do tempo, desde o seu surgimento como órgão da esfera pública moderna, iluminista e republicana, à sua mais completa transformação ante a digitalização e a datificação dos fluxos de informação no século XXI. Em seu curto e sofisticado ensaio, Muniz Sodré nos leva a visitar o arco do tempo que vai do momento em que a informação mediava a deliberação pública e a conversação civil, em suas origens, até este momento de fluxos de informação ace - lerados e horizontais, mas nem por isso isentos de processos de fabricação de narrativas e de agendas ocultas. Que é o momento em que, sejamos realistas, uma sociedade, paradoxalmente, defi - nha por fome de informação de qualidade ao mesmo tempo que está empanturrada de desinformação, enganos e manipulações distribuídas digitalmente e por meio de algoritmos fora do con- trole da sociedade. Vera França, por outro lado, fiel ao interesse de pesqui - sa, que vem sustentando há alguns anos, em uma epistemologia do campo da comunicação no Brasil, examina e esboça a histó - ria da ideia de mediatização (“midiatização”, como prefere), no Brasil, na América do Sul e na Europa. França nos conta as peri- pécias por meio das quais o conceito e suas formas verbais são esculpidos entre nós, pelas mãos de artesãos intelectuais como Santaella, Muniz Sodré, José Luiz Braga, Fausto Neto e Pedro Gilberto Gomes, para só então rematar com os avanços do con- ceito nas teorias levados a cabo por autores europeus (como Couldry), principalmente os do Centro e do Norte da Europa (como Hjarvard, Krotz, Hepp, Strömbäck e Bolin). Em ato contínuo, França reconstitui teoricamente um quadro sinótico do uso do conceito de mediatização, transversal
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