Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Dialogando sobre saúde indígena Kaingang em tempos pandêmicos (Covid-19) 93 feminino que há na comunidade quando diz que “Tanto profissional, quanto chefe de família, né que a maioria aqui da Por Fi Ga e das outras aldeias, as chefes de família são as mulheres. Então, que sempre estão na linha de frente, né”. Ro’otsitsina Juruna também fala sobre o lugar da mulher ao dizer que “Nós, como mulheres indígenas não somos parte de um povo, nós somos o povo” (Xavante, 2017). Em meio a pandemia que vivemos nesse ano, da Covid-19, fica ainda mais nítido o quanto a mulher indígena é central no bem estar da comunidade. Ela não só cuida, mas mantém deixa viva a cultura, segura sob os próprios ombros a saúde dentro da comunidade, ao mesmo tempo em que cuida dos seus que adoeceram. Sueli nos fala um pouco desse início quando diz: “Então, pra nós foi muito difícil porque a gente não esperava né e a gente, como vive aqui em coletivo, então daqui a pouco a gente se pegar sozinho. Trancada. Sem poder visitar os parente. Sem poder fazer um almoço com os parente. Sem poder tomar um chimarrão com os parente. Então, foi muito difícil. Então, a gente sempre ali, articulando, né. A conversa tanto do lado profissional quanto o lado que a gente também é parte, que é membro da comunidade né, orientando sempre. Principalmente a orientação, estar ali preocupado com os parente e passando as informações corretas, né. Então, foi um momento assim, bem, bem delicado e a gente conseguiu.” (Sueli) O que as mulheres indígenas fizeram, mais uma vez, foi dançar na mira de uma arma de fogo. Explicamos melhor: Em 2019, quando as mulheres da Por Fi Ga retornaram da I Marcha das Mulheres, ouvimos um relato que representou toda a força e delicadeza das mulheres indígenas, foi esse: “Daí a gente tava lá na marcha, e um homem apontou uma arma pra uma indígena anciã, e ela começou a dançar”. Que devir é esse que consegue manter a delicadeza de uma dança em meio ao caos? Sobre isso, Gilles Deleuze e Félix Guattari, no livro Mil Platôs, (1997) nos ajudam a pensar, referindo que, “Ora, se todos os devires já são moleculares, inclusive o devir-mulher, é preciso dizer também que todos os devires começam e passam pelo devir mulher. É a chave dos outros devires (p. 61)”.

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