Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

Dialogando sobre saúde indígena Kaingang em tempos pandêmicos (Covid-19) 91 do sistema único de saúde. Esse formato de assistência representa a importância do olhar diferenciado à saúde indígena, embora a portaria nº 254/2002 estabeleça a atribuição de cada esfera na atenção à saúde indígena, ainda existem dúvidas com relação às responsabilidades de cada esfera no âmbito da política pública (municipal, estadual e federal). Dentre as dificuldades está a oferta de serviços regulares, sistemáticos e integrais à complexa dinâmica dos povos indígenas, hoje contabilizados em 305 etnias. (BRASIL, 2010). Já em 2010, a partir do Decreto nº 7.336, passou-se, definitivamente, a gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena para o Ministério da Saúde. Este subsistema, centralizado no Ministério da Saúde através da Secretaria Especial de Saúde Indígena, é gerido por indígenas contratados e profissionais sintonizados com a cosmovisão indígena. Esta foi uma conquista dos povos indígenas, pois deste modo, consegue-se respeitar seus modos e concepções de atenção à saúde. Cabe dizer, no entanto, que grande parte da categoria médica e de profissionais da saúde ocidentalizada, desconsidera e vê com ‘maus olhos’ um subsistema gerido por indígenas, com outras maneiras de viver a saúde. Já no início de 2019, o ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em crítica à SESAI, disse em entrevista à Folha de São Paulo (Cancian, N., 2019), que teríamos um sistema paralelo ao Sistema Único de Saúde (SUS) e improvisado (referindo-se a SESAI), e, com isso, trouxe a possibilidade de descentralização da gestão junto aos estados, ou seja, pretendeu passar para os municípios a responsabilidade de se ocupar com a atenção e cuidado à saúde indígena. Essa municipalização da saúde indígena é parte de um projeto que serve ao desmonte do direito à diferença, direito este, constantemente reivindicado pelos povos originários do Brasil. Qual o interesse em unificar esse sistema aos municípios? Para pensar como seria a saúde indígena municipalizada, uma das pistas que podemos adotar é olhar atentamente nos dias atuais, para saber se há relação entre municípios e saúde indígena e como esta tem funcionado. Estão eles tentando aniquilar a cultura indígena, por não haver espaço na sociedade atual para os que rompem com o normativo, pensam e vivem diferente? A saúde indígena, bem como o ser indígena, é comumente invisibilizada, ao nos depararmos com tentativas como essa de genocídios silenciosos. Almires Martins, que é indígena, pertencente ao

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