Retratos da pandemia: conexões - desconexões & reconexões

88 Laísa Massena de Castro, Michele Rech, Sueli Venkre Tomás e Zuleika Köhler Gonzales Introdução “Quem sabe sua origem nunca se perde 5 ”. (Yorúbá Ídòwú Akínrúlí – Artista Nigeriano). A aproximação com as vidas indígenas aconteceu durante um trabalho coletivo e territorial na Por Fi Ga 6 que foi realizado nos anos de 2018 e 2019 no município de São Leopoldo. Foram vivências que trouxeram importantes deslocamentos, uma vez que nós, mulheres brancas, não indígenas e trabalhadoras da rede de saúde mental – antes mesmo de re-pensarmos sobre o que é saúde na perspectiva ameríndia, e o viver indígena Kaingang – precisamos nos desdobrar para entender seus silêncios, movimentos e formas de resistência, bem como a real história (diferente daquela contada pelos livros de história). E, principalmente, tivemos que aprender a lidar com o ‘não saber’ paralisante frente a outras cosmologias. Nos encaramos, frente a frente, com as cicatrizes históricas mantidas pela colonização e ali representadas pela nossa cor da pele. Entendemos, na prática, que a colonialidade está em todas as relações, e que é somente conhecendo sua história e entendendo esse legado, que se torna possível iniciar um processo decolonial (MIGNOLO, 2004, p. 668). Decolonizar, então, é criar processos instituintes, valorizando e dando passagem a todos os saberes milenares que outrora foram silenciados, tecendo práticas que permitam a emancipação dos povos originários e inventando outras maneiras de ser e estar no mundo. No que se refere à saúde indígena em âmbito territorial, optamos por partilhar aqui, um dos dias em que mais nos aproximamos do viver indígena. Foi durante uma tarde em que, após seis meses de idas semanais na Por Fi Ga, pela primeira vez nos deparamos com uma ida sem o “devido planejamento”, o qual era um costume, ser pensado previamente pelo nosso coletivo. Neste dia, contudo, resolvemos manter a ida e o kit chimarrão embora desta vez, sem roteiro. Ocorre que, ao 5 Citação coletada em 1º Encontro Pós-Colonial e Decolonial – Diálogos sensíveis: produção e circulação de saberes diversos. Florianópolis, (FAED/UDESC). 23-25 de outubro de 2019. 6 “‘Por Fi’ é o nome dado a um pássaro que comunica os guerreiros Kaingang sobre as feras da mata. Já ‘Ga’ quer dizer território. O local onde é a aldeia hoje, era o território desse pássaro tão importante para os Kaingang.” (SCHWINGEL; PILGER, 2014, p. 18).

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